Mazureik Miguel de Morais
Ele andava pelo mundo afora criando diretórios para seu partido, mesmo assim, nunca foi agraciado nem lembrado pelos dirigentes em cargos públicos, como merecia, por ser inteligentemente competente; exceção feita pelo Governador Tarcísio Burity que o nomeou para ser Chefe da Casa Civil. Fazia, pelo interior, muitas amizades; os interioranos e matutos que o conheceram teciam-lhe qualidades e poderes maiores do que os seus correligionários na sua agremiação, no entanto achavam seu nome um pouco estrambólico, uns chegavam até chamá-lo de Doutor Miguel, mas a maioria, carinhosamente, de Doutor Mazú. Ele achava isso bom e dava, naquele tom grave que lhe era peculiar, uma gargalhada, agradecendo. Nesse meio político, nunca arranjava coisas para si; pedia favores para os outros, e quando aos mais humildes necessitados, ele tirava do próprio bolso feijão, arroz, farinha e até algumas latas de sardinha, mas, sem qualquer ranço de demagogia, apenas gostava de fazer o bem, assim ele se beneficiava pela sua própria bondade; também vítima, porque destacar-se com essas virtudes e com essas ações, no território da guerra dos invejosos, sempre é muito invejado e perseguido.
Diante das injustiças, das perseguições e das bajulações desses invejosos, irritava-se com facilidade, num tom de voz acima do normal, chegava até a perder o fôlego. Sobretudo, quando fumava, mas definitivamente consciente de que o cigarro é mortífero, parou de fumar. Quem ele achava que alguém não prestava, não o perdia de vista, tampouco do seu árduo espírito crítico. Contudo, muitas vezes, objetivamente, elogiou quem estava do outro lado partidário, se tratava-se de gente “correta, trabalhadora e honesta”, repetindo, seguidas vezes: “É competente, é competente”. Ao contrário, não media esforço, a criticar “cabra ruim, que sabe nada do que quer fazer”. Certa vez, fui-lhe também sincero: - Andam dizendo que você está inconveniente, que você fala quando e onde não deve falar”; riu e respondeu: - Há inconveniências necessárias e não falo pelas costas. Era de uma sinceridade peremptória...
E de bondade também, com afinco, assim sempre viveu a finalidade da sua profissão: médico tem como primeiro dever curar e não se preocupar primeiramente com compensações e vantagens. E isso fazia espontânea e gratuitamente, conheço vários casos da sua atenciosa prática da medicina. Estava eu fazendo companhia à minha irmã Marilene, em 7 de setembro de 1970, na Maternidade Roberto Granville, quando o marido dela, Fernando, passeava a passos largos, prá cima e prá baixo, sem achar um médico de plantão e então, pelo corredor, surgiu Mazureik que não nos era conhecido: - Por que você está aperreado? Dito o que ocorria, de pronto, o ginecologista Mazureik deixou outros afazeres, lavou as mãos, visitou a parturiente, colocou as luvas e fez a cirurgia cesariana para nascer Raissa. Isso até hoje é objeto da minha memória, início da minha amizade com ele e fator da gratidão, que a irmã, cunhado, sobrinhas, filhos e filhas nutrem por esse exímio obstetra. Nesse sentido, revelo como é gratificante vivenciar a prática da gratidão.
Iniciava sua bondade entre os seus, como pai, pois, em várias ocasiões, demonstrou essa afetuosidade para com os filhos e as filhas; mesmo sem tempo, nunca deixou de ir comprar pão e levá-lo à casa de cada filho. Isso para mim era muito simbólico. Quem é solidário em família, em casa, é solidário também na rua, entre os desconhecidos, permitindo, pelo princípio de alteridade, que os outros sejam e consequentemente tenham; isso também faz enriquecer a consciência de si mesmo. Mazureik lia semanalmente essas minhas crônicas, agora, longe de qualquer miopia, com visão infinita, está lendo tudo isso, lá de cima...
Ele andava pelo mundo afora criando diretórios para seu partido, mesmo assim, nunca foi agraciado nem lembrado pelos dirigentes em cargos públicos, como merecia, por ser inteligentemente competente; exceção feita pelo Governador Tarcísio Burity que o nomeou para ser Chefe da Casa Civil. Fazia, pelo interior, muitas amizades; os interioranos e matutos que o conheceram teciam-lhe qualidades e poderes maiores do que os seus correligionários na sua agremiação, no entanto achavam seu nome um pouco estrambólico, uns chegavam até chamá-lo de Doutor Miguel, mas a maioria, carinhosamente, de Doutor Mazú. Ele achava isso bom e dava, naquele tom grave que lhe era peculiar, uma gargalhada, agradecendo. Nesse meio político, nunca arranjava coisas para si; pedia favores para os outros, e quando aos mais humildes necessitados, ele tirava do próprio bolso feijão, arroz, farinha e até algumas latas de sardinha, mas, sem qualquer ranço de demagogia, apenas gostava de fazer o bem, assim ele se beneficiava pela sua própria bondade; também vítima, porque destacar-se com essas virtudes e com essas ações, no território da guerra dos invejosos, sempre é muito invejado e perseguido.
Diante das injustiças, das perseguições e das bajulações desses invejosos, irritava-se com facilidade, num tom de voz acima do normal, chegava até a perder o fôlego. Sobretudo, quando fumava, mas definitivamente consciente de que o cigarro é mortífero, parou de fumar. Quem ele achava que alguém não prestava, não o perdia de vista, tampouco do seu árduo espírito crítico. Contudo, muitas vezes, objetivamente, elogiou quem estava do outro lado partidário, se tratava-se de gente “correta, trabalhadora e honesta”, repetindo, seguidas vezes: “É competente, é competente”. Ao contrário, não media esforço, a criticar “cabra ruim, que sabe nada do que quer fazer”. Certa vez, fui-lhe também sincero: - Andam dizendo que você está inconveniente, que você fala quando e onde não deve falar”; riu e respondeu: - Há inconveniências necessárias e não falo pelas costas. Era de uma sinceridade peremptória...
E de bondade também, com afinco, assim sempre viveu a finalidade da sua profissão: médico tem como primeiro dever curar e não se preocupar primeiramente com compensações e vantagens. E isso fazia espontânea e gratuitamente, conheço vários casos da sua atenciosa prática da medicina. Estava eu fazendo companhia à minha irmã Marilene, em 7 de setembro de 1970, na Maternidade Roberto Granville, quando o marido dela, Fernando, passeava a passos largos, prá cima e prá baixo, sem achar um médico de plantão e então, pelo corredor, surgiu Mazureik que não nos era conhecido: - Por que você está aperreado? Dito o que ocorria, de pronto, o ginecologista Mazureik deixou outros afazeres, lavou as mãos, visitou a parturiente, colocou as luvas e fez a cirurgia cesariana para nascer Raissa. Isso até hoje é objeto da minha memória, início da minha amizade com ele e fator da gratidão, que a irmã, cunhado, sobrinhas, filhos e filhas nutrem por esse exímio obstetra. Nesse sentido, revelo como é gratificante vivenciar a prática da gratidão.
Iniciava sua bondade entre os seus, como pai, pois, em várias ocasiões, demonstrou essa afetuosidade para com os filhos e as filhas; mesmo sem tempo, nunca deixou de ir comprar pão e levá-lo à casa de cada filho. Isso para mim era muito simbólico. Quem é solidário em família, em casa, é solidário também na rua, entre os desconhecidos, permitindo, pelo princípio de alteridade, que os outros sejam e consequentemente tenham; isso também faz enriquecer a consciência de si mesmo. Mazureik lia semanalmente essas minhas crônicas, agora, longe de qualquer miopia, com visão infinita, está lendo tudo isso, lá de cima...