Beto's New Old Boys e América Mineiro
Nem “Beto Bom de Bola”, nem “Beto Rockfelle”r, nem “Beto Carrero”. Refiro-me nesta crônica ao amigo Roberto Serra, carioca, rosarino, encarnaceno, brasileiro, argentino e, ultimamente, também paraguaio.
Reencontrei-o em 2017, depois de tê-lo conhecido socialmente em 2005, quando faleceu seu pai, meu colega de trabalho. O reencontro foi num dia de calor sufocante de novembro, num hotel em Encarnación, Paraguai, onde fui me hospedar. Aguardando na fila, me pareceu reconhecer o funcionário que atendia. Falava espanhol com sotaque indefinido. Quando viu meu passaporte, lembrou-se da minha passagem por aquela linda cidade paraguaia, onde morei e trabalhei por sete anos, de 2005 a 2012. E essa casualidade valeu a pena, pois iniciamos uma amizade que vem sendo renovada a cada viagem a Encarnación, “la Perla del Sur”, e sustentada pelo telefone celular e seus aplicativos.
Agora, corta, voltemos no tempo. Não sei por que torço para o América Mineiro. Pode ser por ter sido campeão em 1957, ingrediente que influencia todos os meninos aos 7 anos de idade ou por ter conhecido seu estádio, na Alameda Álvaro Celso, perto do antigo hospital da Previdência, onde minha irmãzinha foi internada por muito tempo. Pode ser também por ter assistido a uma batalha campal num jogo no Independência, entre América e Atlético, o Clássico das Multidões, como o chamava a imprensa antes do Mineirão e da ascensão do Cruzeiro. Pois nesse dia, cortaram com cacos de garrafa o supercílio do centro avante Gunga, do América. Pode ser que me guieii pelo lado dos mais fracos, Robin Hood dos gramados, e - preferência definida - logo ganhei de meu pai o primeiro uniforme da minha vida: camisa alviverde, calção preto e meias cinza, o antigo uniforme do América.
Corta outra vez, e de novo estamos no hotel em Encarnación. No intervalo entre um hóspede e outro, enquanto beberico uma cerveja, Beto vem dar corda na conversa nas madrugadas do hall do hotel. Vamos tratando de tudo um pouco. Um dos assuntos era o futebol e Beto me perguntou pelo time do coração. Disse que fui fanático pelo Flamengo, mas já que o Flamengo não precisa de mim, disse que era o América Mineiro. Para minha surpresa, Beto já conhecia muito bem o Coelho. Lá pelos anos 1960, o América excursionou pela Argentina e jogou em Rosário, onde Beto morou. Uma das partidas da viagem foi contra seu time do coração, o Newell’s Old Boys, que tem como rival eterno o Rosário Central. Como resultado dessa excursão, dois jogadores do América foram contratados pelo Newell’s: Zuca, que ficou bem uns cinco anos por lá, e Eduardo, que depois de pouco tempo foi jogar no Velez Sarsfield. De Eduardo não me recordava muito, mas Zuca foi meu ídolo quando criança. Lembro dele na escalação Miguel, Alecir, Gunga, Zuca e Dodô, não sei de que ano. Pois Zuca, principalmente, e Eduardo, fizeram história por ali e o nome do América se associou à história do Newell’s e à memória do Beto.
Pronto, então, como já tínhamos memórias comuns e o futebol fazia parte, fizemos um trato: você torce pro América, eu torço pro Newell’s. No Brasileirão de 2018, Beto já sofreu com a rápida descida do Coelho de volta à Série B, depois de ter sido campeão em 2017. Em retribuição a sua solidariedade, hoje sou Newell’s na Argentina. Adeus River Plate!
Mas nosso assunto não fica só no futebol. Vai da política brasileira à política argentina e termina sempre no Paraguai. Não há muita diferença, a propósito, nesse tema, só os nomes dos corruptos e das operações é que mudam. De vez em quando, vamos para o universo do rugby, esporte em que era mais analfabeto, antes de conhecer o Beto, fundador do clube de rugby de Encarnación. Contemporâneos servem pra isso, as intertextualidades simplificam bastante o diálogo e a conversa com gente igual ao Beto só dão prazer e conhecimento