CAMISAS AMARELAS

Cheguei à bodega e busquei umas coisinhas diversas. Uns quatro produtos. Detergente, macarrão instantâneo, ovos e pilhas-palito. Estava no balcão e a vendedora atendia outra pessoa. Eu era o terceiro da fila quando um quarto cliente chegou e, de olhos baixos, mirou os cigarros na prateleira. Perguntou quanto custava um. Não lembro a resposta, mas lembro de que o homem sacou algumas moedas do bolso. Olhei para as mãos do homem que procurava entre moedas de cinco centavos o valor que necessitava. A atendente, dona da bodega, pegou um cigarro de um maço: “Toma! Pode levar, não precisa pagar.” Ele agradeceu. A atendente ascendeu o isqueiro que ascendeu o cigarro. Ele puxou fundo a fumaça e segurou. Agradeceu mais uma vez com um gesto de cabeça e saiu. Eu o observei detidamente enquanto ele soltava uma baforada. Era baixo, magro, uns 60 anos, cabelo grisalho, pele morena... Uma bolsa, uma bermuda, chinela havaiana, camisa amarela um pouco gasta, camisa amarela da seleção...

Enquanto o homem se ia eu pensava: “Finalmente vejo essa camisa realmente representar este país!.”