O casarão do meu avô
O que mais marcou a minha vida de artista foi à casa do meu avô Agostinho José de Santiago Neto. Aquela casa enorme onde passei a minha infância foi onde tudo começou, na minha vida de artista e poeta popular. O nosso casarão tinha uns cinco quartos grandes e uma sala enorme que nós chamávamos a sala da frente. Em um quarto anexo ao alpendre eu armava a minha rede e lia o poeta Castro Alves, Augusto dos Anjos, José Lins do Rego e sobretudo o nosso romancista José de Alencar. A tia Ana Rosa vinha me chamar para eu tomar café e levar a sua criação ao nosso cercado do rio Jaguaribe. A tia Marica tinha um quarto próprio para o seu trabalho de renda e as suas leituras. No quarto da tia Marica estava a secretária do meu avô superlotada de livros que a minha mestre lia de vez em quando. Quando eu entrava naquele quarto levava logo um carão porque a tia Marica não aceitava ninguém mexer naquela mesinha de duas gavetas onde estavam os escritos do seu genitor e mormente os livros que ele havia lido quando vivo. Ainda alcancei alguns livros do meu progenitor como a Crestomatia de Rodagásio Taborda, o Lunário Perpétuo o dicionário de Antonio Moraes e Silva como também o Dom Quixote de La Mancha do grande Miguel de Cervantes. A casa do meu progenitor era visitada por muita gente íntegra, a família Domingos, a família Fonseca, gente como seu Ventura Cacá e o tio Raimundo Elias Soares e a sua consorte a tia Rosa Augusto. Com sessenta e cinco anos me parece estar vendo aquela casa onde iniciei a cantar repente e escrever os meus primeiros textos.