MUITO OBRIGADO DR. CHARLES DARWIN

O meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Bacharelado em Ciências Biológicas na Universidade Federal Rural de Pernambuco foi um estudo do comportamento humano diante de recintos com animais em cativeiro no PEDI – Parque Estadual Dois Irmãos – Recife/PE.

As reações do público alvo que mais chamaram a minha atenção foram diante dos recintos das serpentes e iguanas - Classe Reptilia - quando além dos comentários e das tentativas de pôr os animais em movimento, muitas dessas pessoas cuspiam no chão, numa demonstração de asco e repugnância, conforme ressaltei no trabalho.

Mas isso era a hipótese que carecia de confirmação científica para ser aceita como verdadeira ou, diante da negação, descarta-la como improcedente.

O comportamento simbólico é campo de estudo da Antropologia e dentro desta área do conhecimento é o estudo do Imaginário quem melhor explica as causas das reações que consideramos óbvias sem nunca questionarmos o porquê.

Por conta disso fui buscar no Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre o Imaginário, ligado à pós-graduação em Antropologia do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco a confirmação, ou negação, da minha hipótese tendo em vista que é através do estudo do imaginário que decodificamos as raízes da herança simbólica que nos chegam através de imagens, tabus, hábitos, alimentos, crendices, histórias, gestos, lendas, proibições, vestuário, amuletos, rezas, etc. que, por conta da tradição oral adquire novos contornos com acréscimos ou supressões, mas que, apesar do distanciamento temporal do fato real da sua origem, não perde a significação histórica, influindo e sendo influenciado pelo núcleo social ao qual está ligado.

Apesar da entusiástica acolhida, das preciosas explicações da Dirigente do Núcleo e dos debates com os colegas graduados e pós-graduados nas diversas áreas do conhecimento científico aplicado como medicina, física, arquitetura, engenharia, psicologia, administração, contabilidade, agronomia, teologia e principalmente doutorandos em antropologia, foi preciso muito esforço de minha parte para flexibilizar o meu enfoque científico, direto, cartesiano, onde “ou é ou não é”, para a se adaptar à visão humanística do “é, mas também pode ser que não, ou ser ao contrário do que aparenta ser, sem contudo perder a identidade” e também para adquirir habilidade em extrair a essência do pensamento dos autores em textos longos, prolixos, repetitivos...

Uma afirmação que num livro texto de Ciências Exatas e da Natureza se diz em meia página, em Humanas são necessárias cinco ou seis páginas completas e foi assim graças ao exercício de ler, reler e ler outra vez, de sublinhar frases chaves para o entendimento que me familiarizei com autores como Eliade, Durand, Bachelard, Freud, Lévi-Strauss, Pavlov, Piaget, Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Esopo, La Fontaine, Ariano Suassuna, Gilberto Freire, coletâneas de artigos de diversos autores, trabalhos de conclusão de cursos, dissertações e teses até que nesse primeiro de julho de 2019, lendo o livro Inteligência Emocional do autor Daniel Goleman, encontrei a citação que torna válida a minha hipótese e põe fim a uma busca de catorze anos.

“A expressão facial de nojo – o lábio superior se retorce para o lado e o nariz se enruga ligeiramente – sugere uma tentativa primordial, como observou Darwin, de tapar as narinas contra um odor nocivo ou cuspir fora uma comida estragada”.