Olhares

Teus olhos me fizeram de medo. Havia em teu semblante fome, uma fome que minhas mãos não saciariam, pois estavam vazias. Me pus a observar e vi que não era apenas fome, havia em teus olhos medo, medo de talvez perder o que te restava.

Fiquei perplexo por nada poder fazer, observei por alguns minutos e estendi a mão, seguraste com firmeza, mas não conseguisse andar, apoiaste em meu ombro e deste alguns passos, eu vazio de quaisquer palavras, oferecia apenas meus ombros para que andasse.

Seguimos por alguns minutos, abri os olhos e tu ainda estavas a minha frente, com o mesmo olhar de medo e eu com as pernas trêmulas por todas as vezes que reclamei da vida, enquanto teu medo e tia fome me ensinavam que sempre a motivos para o riso, ainda que motivos não hajam.

O metrô chegou. Não consegui mover os pés para entrar nele, mas fui empurrado e ti ficaste de pé a me fitar com mais voracidade, meus olhos foram invadidos por uma água salgada, era inevitável que saísse dos meus olhos aquele suor.

Duas palavras tuas e o meu dia passou a fazer sentido, porque me fizeste enxergar que não há razões para reclamar, ainda que na angústia esteja, há de haver uma solução para os problemas pequenos da vida.

O brilho do sol se pôs no céu e a luz forrou minha pele. Segui, mas meus olhos ainda carregam a imagem dos teus e o medo agora está em mim, por não poder ter te oferecido ajuda, apenas a minha fragilidade de ser um super herói sem super poderes.

Talvez, algum dia, nossos olhos se reencontrem e, quem sabe, não haja medo nem fome no teu olhar que me atormenta até aqui, pois me mostrou a vulnerabilidade da vida e a minha impotência diante dela.

Gilson Azevedo
Enviado por Gilson Azevedo em 04/07/2019
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