O preconceito é brasileiro, texto 1
Dia desses, acompanhando notícias do cotidiano pela internet, me deparei com uma chamada que mencionava uma briga do casal que fazia parte da banda Calypson. Na verdade praticamente donos da banda. Eu resolvi acessar a notícia, não pelo interesse na matéria, muito menos por gostar da banda. Fui vencido pela insistência. Havia semanas que chamadas (títulos) convidavam para saber das confusões do casal. E isso considerando que leio notícias em sites ditos “respeitados”, mas há sempre espaços para as fofocas dos famosos (!).
Não compartilharei aqui das mazelas de Joana e Chimbinha (rs), muito menos faço coro para que alguém ouça ou deixe de ouvir a banda (por música considero que a questão é de “gôsto” mesmo, e o meu “gôsto” outro, e então a justificativa já está dada). Na verdade não foi inclusive a notícia que fez abonar a minha atenção. Da leitura corrida cheguei aos comentários postados abaixo da matéria. Impressionou primeiro o número, se não me engano já beirava uns mil comentários. Sim, fofoca também gera debates e opiniões, até acaloradas inclusive!
Mesmo no momento de intolerância no qual vivemos, não me antecipei em considerar que uma simples notícia poderia suscitar discursos tão... Intolerantes! E para além da intolerância, eu me deparei mais uma vez com um arremate que não é novo, mas, é mascarado pelo discurso cultural. Em suma, pude mais uma vez constatar o quanto o brasileiro é preconceituoso. É um preconceito velado, debochado, mas, não menos perverso e desonesto. Imaginem que a notícia sobre as brigas de um casal de uma banda que canta músicas brega pop (essa descrição da banda está na própria notícia) fez gerar embates acerca dos gôstos musicais, de gênero, etnia e principalmente regional. Adjetivos como feiosos, atrasados, bichas, vergonhas do Brasil, aculturados, povinho pobre, lixo cultural, bolsistas do governo e vários outros foram utilizados em alusão ao público da banda. No final, e seria louvável não fosse a baixaria ainda maior, ninguém mais comentava acerca da matéria. Transformou-se num conflito entre pessoas do norte e nordeste contra sul e sudeste (acho que o pessoal do Centro-oeste entrou menos na pilha!). Virou uma briga entre simpatizantes de estilos musicais diferentes, entre pessoas de níveis de escolaridades díspares, e deu mesmo para incluir no repertório alcunhas e palavrões que remetiam às questões de gênero e etnia. E pasmem, no fim predominava a intolerância entre adeptos a diferentes partidos políticos.
Compartilho aqui esse exemplo, mas não são poucas as oportunidades que temos para presenciar esse cenário. Abra uma matéria que fale de futebol, de política, acho que vou sugerir mesmo qualquer matéria em que no final abre espaço para comentários. Na maioria das vezes vamos ver enxurradas de palavras e orações revestidas de preconceito. Mas o discurso no Brasil predominante é de que aqui é um país de pessoas pacíficas, de boa convivência com o próximo, que aceita com leveza viver com as diversidades.