POSSO AJUDAR?
POSSO AJUDAR?
Era um início de noite como toda de outros dias, mas algo me chamara a atenção.
- A luz do lampião não acendeu hoje?
Às 7 horas de um junho que anunciava a chegada do inverno, o sol se recolhe mais cedo nesse período do ano, e a escuridão da minha garagem, fazia com que tivéssemos dificuldade de acessar a nossa casa.
O que será que aconteceu? As duas lâmpadas queimaram. Era a conclusão previsível e inesperada, porém pra surpresa de todos , era que alguém subira no muro de casa e furtara ambas as lâmpadas e o breu era o que sobrara no hall de entrada de casa.
O vizinho da esquerda, sempre atento aos movimentos de quase todos da rua, e vendo o alarido sobre a falta de iluminação, logo se apressou a buscar captar as imagens que ele tem nas quatro câmeras instaladas em seu portão que lhe serve para perceber os movimentos dos que passam nas adjacências da minha residência.
Não demorou muito pra eu ser chamado a casa dele para visualizar na central de controle do detetive de plantão, as imagens de um rapaz, que sem se dar conta de nenhuma repreensão, escalou o portão desse mesmo vizinho e dali, rapidamente transportou-se para cima do muro da minha casa e, sem nenhuma dificuldade, tratou de desatarraxar os parafusos dos bocais e afanar as lâmpadas dos refletores.
Na casa do vizinho deparei-me com a esposa dele, que não tardou para manifestar a indignação ao revelar as diferentes imagens constatadas nas câmeras em HD de um rapaz magro que trajava uma camiseta azul
Os zoons , captados em movimentos de câmeras lentas, que retrataram além do rosto quase esquálido do moço , algo inusitado me chamou atenção. Na camisa de malha, do insano homem, uma frase grafada em suas costas, destacava-se: “POSSO AJUDAR?”
Os comentários dos donos do arsenal de produções cenográficas, eram os mais terríveis, algo como encontrar o infeliz e aplicar-lhe uma boa surra, até a singela providência de encaminhá-lo a algum responsável para lhe fazer o favor de “cancelar o seu cpf”.
As imagens mentais desenvolvidas através dos discursos, propiciavam-me um estado de paranoia que de imediato tratei de rechaçar, pois certamente a mim, causaria mais pânico os efeitos de tais medidas do que me deparar com aquele individuo dentro da minha casa.
Aconselhamentos não faltaram para que eu passasse a colocar algumas carreiras de arame farpado, cercas elétricas, e ainda a elevação dos muros em torno da minha casa.
Passados alguns dias, fiquei a pensar, qual a melhor providência a tomar? Entre umas e outras ideias, lembrei-me da mensagem contida na camisa do rapaz, e dali julguei o quanto sou um cara de sorte... sorte?! Dirão aqueles imediatistas de plantão, onde veem o pragmatismo da solução imediata, expulsando para longe aqueles que ousam nos importunar, ao se auto intitularem donos de objetos que nos pertençam.
O destino do moço atrevido mal posso imaginar, o fim a que foi dado as lâmpadas, muito menos, mas de um todo, fiquei a refletir o “O POSSO AJUDAR?” Ora, ora, pois,pois, quer mensagem mais direta dos céus, transmitida através dos nossos anjos guardiães?
Muitas vezes aguardamos por Deus uma manifestação que nos venha alcançar em bênçãos, trazendo-nos uma sorte boa. Rogamos aos benfeitores espirituais, graças para nos enriquecer os cofres em cifrões para que possamos usufruir mais conforto.
Agora pensemos por outro lado. De que me vale ter tudo isso e viver isolado no meu castelo, onde mal posso olhar a rua lá fora...? Observar o mundo através das câmeras possantes como vivêssemos num big brother, tal como o meu vizinho que se ocupa dia e noite a assumir o seu honroso papel de titular do “DIVA”(Departamento de Informações da Vida Alheia)?
Enclausurados, por trás dos altos muros, protegidos por cercas elétricas, muitos daqueles que enveredaram pela opção do crime, outros estão e talvez até o próprio cidadão ousado que se apropriou indevidamente de alguns apetrechos por aí possa estar, caso seja pego praticando delito.
Mas, da minha parte, qual o pecado cometido para merecer idêntico destino?
Sei que o mundo está longe de se ver por um cenário cor de rosa, mas ao contrario dos que possam me intitular como romântico, e me enxerguem como discípulo de Poliana, penso que urge escolhermos quais os panos de fundo do palco da vida que se tem para ilustrar o teatro que vivemos? E ainda mais, qual a cor da cortina quando tivermos que encerrar o por ora espetáculo que encenamos? Seremos mocinhos ou vilões? ROUBAREMOS a cena?
O captador de lâmpadas pegou-as, ele queria luz, estaria precisando se iluminar. E eu preciso de que?
As câmeras instaladas aos arredores das casas tratam de eficazmente registrar, todos os transeuntes; nelas ficam gravadas todos os movimentos, e o ir e vir de qualquer ser inanimado ou não; mas será que não haverá outras invisíveis aos nossos olhos, que registram os nossos passos e descompassos?
O “posso ajudar?” quando estamos em algum apuro, e encontramos alguém a nos tirar da escuridão da ignorância, nos abre uma luz no fim túnel. De todo modo, sabendo que preciso ser um tanto quanto prudente às armadilhas que podemos cair, penso que me vejo mais saudável depois de reconhecer as ajudas imperceptíveis aos olhos que recebo todos os dias.
Acho que Deus tem um alto sensor de humor, e de vez em quando e quando e vez, gosta de aplicar algumas peças em mim. Tá legal!
Em tempo: Um dia eu fiquei sabendo, que um homem de bem ao inquirir do seu mentor espiritual a realidade sobre a grande incidência de crimes em nosso mundo, este respondeu: “CRIMINOSO É SEMPRE UM DE NÓS QUE FOI DESCOBERTO”
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS) 30/06/19