Ninho vazio.
Página em branco, ninho vazio...
Antigamente, crianças brigando, chorando, cantando, gritos de mãe pra cá, mãe pra lá.... Quatro, quatro crianças. Uma menina e 3 meninos. Trabalho atrasado, estudo, tarefa de casa, crianças sorrindo, vizinhos reclamando. Pintaram de amarelo o cachorro do vizinho. Família, cachorro, gato, domingo, segunda. Segunda cansada. Caderno, mochila de sacolinha, comprar mochila nova, juntar dinheiro, tadinha da menina, camiseta da escola, brinquedos, palmadas. Terça, quarta, reunião, apresentação de trabalho, bicicleta quebrada, testa esfolada, queimadura na perna, pomada, hospital. Corte na mão, toalha enrolada. O menino dormiu em baixo da mesa, depois em baixo da estante, coitado, não dava trabalho. Estudioso, só tirava 10, era bonzinho, às vezes chorava. 10 anos já trabalhava com a bicicletinha velha, ajudava no trabalho. O outro, testa esfolada de novo! Não fica na escola, tem que fugir, ouvindo gritos de “mãe, volta.” Choro, que dó de deixar... Diziam que era chicletinho do pai, no fundo era o chicletinho da mãe... Briga na escola. Menina insuportável, diziam... Não era nada! Era minha e só eu podia falar, mais ninguém. Brigava por ela. Ainda brigo. Geniosa igual a mãe. Linda menina. Natal, dinheiro, brinquedos, comida o pai faz, lavar louça, muita louça. Gente que chega, gente que sai. Ano Novo também, muita gente. Festa de aniversário dos gêmeos, parece que ninguém vem... Que triste, depois vieram todos. Bananas de pijama, quase mataram os coitados dos bananas... Aniversário de 15 da única menina, sem dinheiro, formatura da escola, vestido prateado muito curto, mãe reclama, mãe barrada na formatura, pai pode ficar. O pai pode tudo. Menina, pega os meninos na escola e não assusta eles, cuida deles! Largava na esquina, só pra vê-los assustados. Menino, não vai naquela rua de bicicleta, desce agora! Só tem maconheiro, risos. Menino apanha, mosquitinho porva, não ia vingar, muito franzino, hoje um homão lindo! Formatura de trabalho do outro menino, em outra cidade, o pai vai lá e representa e mãe. A mãe trabalha, trabalho atrasado. Sexta feira, descanso, não menino caiu, bateu a cabeça de novo, horas no hospital. Crianças dormindo, que bom. Todos? Confere, não a menina fugiu. Mãe de pijama na danceteria da esquina. Puxão de cabelo. Pega a menina, põe pra dormir. O melhor de tudo, eram os risos e sorrisos. Os abraços apertados com o pai, com a mãe, entre os irmãos, o amor, o pegar no colo, a alegria no coração que dava em cada superação, de cada um. Dos quatro. Um por um. Superação no trabalho, nos estudos. Na vida. A reunião das noites, esperando todos chegarem da faculdade para jantar. O pai fazia a janta. Eram ceias, tanto faz, o importante era que todos chegassem e jantassem juntos. A reunião na cama de jantar na copa do mundo no Japão, com quitutes que o pai fazia. Saudade que dá. Todos dormindo. Enfim descanso, não, saudade que dá, cada um seguiu sua vida, que com muitas lutas superaram e foram morar em outro lugar. Um deles tá lá, cuidando de nós dos velhos, o pai, a mãe, a vó, a tia o cachorro e o coelho. Um dia também vai morar em outro lugar, aí sim o ninho fica vazio de vez. Saudade que dá. São felizes com suas famílias graças a Deus, cada um, à sua maneira, do seu jeitinho. E agora já temos um neto e duas netinhas. Saudades que dá. Casa bem grande, página em branco, ninho vazio. A minha página não está em branco mais. Foi só uma forma de começar esta crônica. Hoje acordei saudosa da casa cheinha de gente, cheinha de filhos, só saudade.