As razões de Dona Maria
Meses após haver recebido uma curiosa negativa da proprietária do apartamento em que resido há quase cinco anos, sob o arrazoado de que "...você é o melhor inquilino que tenho, e não quero perdê-lo de jeito maneira...", ligo-lhe para anunciar que em coisa de duas ou três semanas devo mudar-me para um imóvel que estou negociando. Assinalo-lhe, en passant, que o aluguel está me saindo acima de minhas possibilidades, sobretudo desde que passei à condição de ex-chefe de uma repartição em agosto último...
Dona Maria do Carmo, ex-funcionária da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, já octogenária, responde-me com uma pergunta: quer saber para onde pretendo ir. Explico-lhe que fica na parte mais central da cidade, à rua Rio de Janeiro, atrás da igreja de São José...
Quase que impetuosa e outro tanto imperiosa Dona Maria diz categoricamente que não devo assumir esse risco. E cita o exemplo duas primas que moram naquela proximidade e que vivem apavoradas, nem saindo à noite de medo de serem assaltadas.
Antes que eu lhe conteste a assertiva, que me soa estranha e inacurada, pois nessa prospectiva moradia residiu minha irmã que jamais se queixou
de insegurança no local, Dona Maria engatilha uma pergunta sedutora:
- Por quê então, o senhor não compra um apartamento em local bem mais seguro que, por acaso, meu irmão está colocando à venda, logo ali na saída da avenida Augusto de Lima, da praça Raul Soares...?
Para quem conhece Belo Horizonte, ainda que pouco, não há necessidade de explicação para o raciocínio e o poder de persuasão de Dona Maria; para quem não conhece esta nossa capital dos mineiros, melhor noutra praça
empregar seus dinheiros...