PARTIDA

O meu desejo de ir embora é ardente como a brasa e temeroso como os primeiros passos de uma criança.

Tantas noites se vão, o sol surge ao leste, mas a dor

insistentemente a cada minuto se refaz.

Gostaria que meus passos encontrassem o equilíbrio, para que assim seguissem pelas mais diversas veredas sem se desviar do fixo caminho. Tudo aqui é tão incerto, é tão dolorido, tão venenoso! De certeza só há a incerteza.

Penso em voar, abrir as asas e partir sem direção. Abandonar a dor, e quem sabe cultivar o perdão. Mas, se assim for deixarei sofrimento, muito lamento e palavras não ditas.

Seria egoísmo retirar de mim e pôr em tantos. A solidão é o meu exemplo de companhia ideal, está presente no individual e no plural. Não se cansa, não descansa, é intensa, é leal. Pobre de mim, que tento fugir, mas as

amarras da alma são fortes como o aço.

O meu desejo de ir precocemente é um grito, um esperneio, um pedido para não ir embora. Espero que eu não antecipe a hora, e que o destino se compadeça de mim, pintando o arco-íris após esse temporal que parece não ter medida, muito menos um fim.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 29/06/2019
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