Confusões e confusões construtivas
Ontem, um deputado me disse: “Não aguento mais, na política desse país, tudo é muita confusão pro meu gosto”. Ri, mas disse a ele que haver confusões na política é muito normal, que quem quiser agir ou militar no mundo político terá sempre de conviver com muitas confusões; ou seja: a política “ordeira”, sem discussões e debates, arbitrariamente, seria aquela em que não se exercitam a liberdade de expressão e a aceitação da diversidade de ideias, o que, posteriormente, gera também confusos conflitos; ou quando se dá um sumiço ao espírito crítico: tudo é bom, tudo é ótimo ou tudo é errado, tudo é ruim, o que também nos joga num mundo muito tumultuado, irreal, de generalizações. Contudo, se for política, logo aparecem confusões, do que não se pode fugir, tampouco escapar, caso se viva na polis, na sociedade. Esses “aperreios” diminuem, se o interessado optar em ser eremita, isolado da sociedade, nos ermos de uma montanha inabitada, mas com a resignação a desprezar os benefícios da tecnologia e o conforto vendido pelo mercado da sociedade industrializada; com certeza, teria tão somente a natureza e as primícias do mundo meditativo. Há quem, aqui e acolá, “passa uns dias escondido no mato”, “sem rádio e sem documento das terras civilizadas”. Mas, sem vocação para asceta, logo depois corre atrás das preocupações, pega o caminho de volta pra cidade à procura de compromissos e “responsabilidades”, onde sempre há confusão; sobretudo porque, no campo, não suporta as reclamações dos filhos, das filhas que não se contentam sem os celulares... Por isso, os eremitas de sucesso eram solteiros, solitários e com muito tempo ao sábio discernimento. Também, por outros motivos, essa “espécie” está em fase de extinção.
A diversidade, que geralmente provoca confusão, está no fato de que, na política, surgem vários caminhos para um só objetivo; ou, por analogia, idealizam-se várias estradas para um mesmo lugar. Embora esse mesmo lugar seja comum a todos, sempre existem alguns que discordam sobre o qual caminho a tomar: “O meu atalho é o melhor”. Essa é uma das explicações e das razões do imenso pluripartidarismo, ou seja, existe “partidinho” que não vem a ser um caminho, trata-se de apenas um desvio, um pequeno atalho, contudo diferenciando-se dos outros caminhos. É bom que se esclareça o que seja confusão: num primeiro sentido, seria ato ou feito de confundir, de misturar, também tumulto, barafunda; mas, indo às raízes da palavra, lá vem um significado de resultado bem positivo: “fundir com” (fusão com), ou seja, quando se fundem diferentes ligas metálicas numa só, tornando-as uma peça fundida mais forte, como se fosse o mais aperfeiçoado momento dialético da síntese, consequente da confusão de ideias divergentes e fruto de um caloroso debate.
A água gelada nessa fervura conturbadora seria o convencimento de que todos os caminhos nos levam para um mesmo lugar, se desejado por todos, o que é muito conciliador; e que esse lugar, mesmo sendo um pouco utópico, a estilo de Thomas Morus (autor da Utopia, juiz imparcial decapitado por Henrique VIII ), seria o Bem Comum, o que, para ser conseguido, causa muita confusão entre os individualistas, egoístas, aqueles que querem o mundo só para si. Mesmo conseguido o Bem Comum, criar-se-ia, consequentemente, outro caminho: o dos inconformados, o dos que querem o melhor e o maior apenas para si. Confesso: fazer o Bem Comum faz parte da política, então a dita confusão continuaria, mas suficientemente diminuída... Há políticas públicas, como saúde, segurança e educação, cuja importância teoricamente goza de maior aceitação consensual; contudo, na prática, não acontece o que prometem ou o que se espera. Pode-se afirmar que, um dia, havendo mais educação, quando nossa consciência política evoluir, os políticos não farão tanta “confusão” em torno de uma política pública que considere que a educação do povo deve ser a missão mais importante dos políticos.
Ontem, um deputado me disse: “Não aguento mais, na política desse país, tudo é muita confusão pro meu gosto”. Ri, mas disse a ele que haver confusões na política é muito normal, que quem quiser agir ou militar no mundo político terá sempre de conviver com muitas confusões; ou seja: a política “ordeira”, sem discussões e debates, arbitrariamente, seria aquela em que não se exercitam a liberdade de expressão e a aceitação da diversidade de ideias, o que, posteriormente, gera também confusos conflitos; ou quando se dá um sumiço ao espírito crítico: tudo é bom, tudo é ótimo ou tudo é errado, tudo é ruim, o que também nos joga num mundo muito tumultuado, irreal, de generalizações. Contudo, se for política, logo aparecem confusões, do que não se pode fugir, tampouco escapar, caso se viva na polis, na sociedade. Esses “aperreios” diminuem, se o interessado optar em ser eremita, isolado da sociedade, nos ermos de uma montanha inabitada, mas com a resignação a desprezar os benefícios da tecnologia e o conforto vendido pelo mercado da sociedade industrializada; com certeza, teria tão somente a natureza e as primícias do mundo meditativo. Há quem, aqui e acolá, “passa uns dias escondido no mato”, “sem rádio e sem documento das terras civilizadas”. Mas, sem vocação para asceta, logo depois corre atrás das preocupações, pega o caminho de volta pra cidade à procura de compromissos e “responsabilidades”, onde sempre há confusão; sobretudo porque, no campo, não suporta as reclamações dos filhos, das filhas que não se contentam sem os celulares... Por isso, os eremitas de sucesso eram solteiros, solitários e com muito tempo ao sábio discernimento. Também, por outros motivos, essa “espécie” está em fase de extinção.
A diversidade, que geralmente provoca confusão, está no fato de que, na política, surgem vários caminhos para um só objetivo; ou, por analogia, idealizam-se várias estradas para um mesmo lugar. Embora esse mesmo lugar seja comum a todos, sempre existem alguns que discordam sobre o qual caminho a tomar: “O meu atalho é o melhor”. Essa é uma das explicações e das razões do imenso pluripartidarismo, ou seja, existe “partidinho” que não vem a ser um caminho, trata-se de apenas um desvio, um pequeno atalho, contudo diferenciando-se dos outros caminhos. É bom que se esclareça o que seja confusão: num primeiro sentido, seria ato ou feito de confundir, de misturar, também tumulto, barafunda; mas, indo às raízes da palavra, lá vem um significado de resultado bem positivo: “fundir com” (fusão com), ou seja, quando se fundem diferentes ligas metálicas numa só, tornando-as uma peça fundida mais forte, como se fosse o mais aperfeiçoado momento dialético da síntese, consequente da confusão de ideias divergentes e fruto de um caloroso debate.
A água gelada nessa fervura conturbadora seria o convencimento de que todos os caminhos nos levam para um mesmo lugar, se desejado por todos, o que é muito conciliador; e que esse lugar, mesmo sendo um pouco utópico, a estilo de Thomas Morus (autor da Utopia, juiz imparcial decapitado por Henrique VIII ), seria o Bem Comum, o que, para ser conseguido, causa muita confusão entre os individualistas, egoístas, aqueles que querem o mundo só para si. Mesmo conseguido o Bem Comum, criar-se-ia, consequentemente, outro caminho: o dos inconformados, o dos que querem o melhor e o maior apenas para si. Confesso: fazer o Bem Comum faz parte da política, então a dita confusão continuaria, mas suficientemente diminuída... Há políticas públicas, como saúde, segurança e educação, cuja importância teoricamente goza de maior aceitação consensual; contudo, na prática, não acontece o que prometem ou o que se espera. Pode-se afirmar que, um dia, havendo mais educação, quando nossa consciência política evoluir, os políticos não farão tanta “confusão” em torno de uma política pública que considere que a educação do povo deve ser a missão mais importante dos políticos.