PROFESSORES, SEJAMOS MENOS IDIOTAS !

Eticamente, é quase um clamor que nós ultrapassemos esse mundo da tarefa e cheguemos ao mundo da política com aquilo que fazemos .

kafecomleit@hotmail.com

Eu demorei acreditar. Mas foi mais forte do que eu...tive que me render: de fato, a maioria dos professores, principalmente na educação básica, ainda acredita piamente que os principais problemas da educação são pedagógicos; ou que o principal culpado pela má qualidade do ensino público é o próprio professor. Quase entrei em choque!

O que explica tanto idiotismo? Não sei! Talvez nem Freud explica.

Mas o certo é que ainda somos demasiadamente idiotas, principalmente para o tamanho das aspirações que alegamos ter.

Eu poderia elencar, aqui, dezenas de situações que corroboram com essa conclusão desconcertante e, para muitos, atordoadora; porém, em função do tipo de texto e em respeito à paciência do(a) leitor(a), esforçar-me-ei para ser sucinto (um exercício complicado, mas necessário, pra mim).

Apresento em defesa do meu postulado duas situações apenas, tendo como referência a degradante situação dos professores da rede pública estadual do Amapá: Gestão Democrática e organização do movimento estudantil (com pesar, vou deixar de fora o assédio moral).

A Gestão Democrática consta como uma das demandas na pauta de reivindicação do nosso Plano de Lutas/2019 – o que não é crime, mas há controvérsias.

É bom que se ressalte que a lei (1.503/10) da Gestão Democrática (que, na verdade, a regulamenta, já que quem a garante é a própria Constituição Federal/88) está em vigor há exatos nove (9) anos; e, nesse período, pouquíssimas escolas se mobilizaram (e mobilizaram suas comunidades) para a implantação desse modelo de gestão.

É fato que a própria lei determina uma série de responsabilidades – como a instalação e funcionamento de comissões, equipe de qualificação de conselheiros, etc – a serem cumpridas (e que não estão sendo) pela Gestão. No entanto, as partes que competem aos professores – sendo a principal delas, sem dúvida, a mobilização da comunidade -, também não estão sendo implementadas; e não é só por falta de logística não. O problema maior é a compreensão (ou falta de) do caos em que nos encontramos e, por outro lado, a ignorância (ou autodescrédito) em relação ao potencial transformador que representa nossa ação política – bem como a potência autodestruidora que representa nossa inação.

Via de regra, o professor da educação básica não consegue admitir – e muitos se sentem profundamente mal, só de cogitar tal possibilidade – que, qualquer que seja, a atividade por ele desempenhada tem, reconhecendo ele ou não, um caráter, antes e acima de tudo, político (em contraste à sua postura supostamente apolítica – ou idiota). Ou seja, não existe ação pedagógica que não seja, antes de qualquer coisa, uma ação política. Aliás, a própria existência de um sistema de educação é a maior de todas as ações políticas; ou alguém acredita que toda essa engrenagem é uma obra e graça da natureza?!

Quanto ao movimento estudantil, basta dizer que ele simplesmente inexiste no Estado, embora a lei em questão, na alínea d do inciso IV do seu Artigo 7º, prescreva o incentivo e a garantia de organização dos grêmios estudantis como uma das atribuições dos professores enquanto agentes mobilizadores da comunidade.

Evidentemente, não é crime ser idiota – principalmente quando se pensa que quem o está sendo são os outros. Mas certamente estaríamos em condição bem menos degradante se decidíssemos nos assumir (também) como políticos.