VOCÊ JÁ CALCULOU?!
A vida só vale a pena ser vivida quando há algo pelo qual vale a pena ser perdida.
kafecomleit@hotmail.com
Sobre minha decisão de continuar na GREVE DA EDUCAÇÃO – em curso no Amapá –, um colega me perguntou:
– Você já calculou quanto vai ser descontado no seu contracheque, caso o Governo decida colocar faltas?! E os dias pra repor?! Você já calculou quantos feriados terá que trabalhar?!
Sem nenhuma pretensão que não chamar a atenção para a urgente necessidade de repensarmos os conceitos e dimensões de termos como dignidade e valor próprio, respondi – com a praxe de quem nunca se cansa de provocar – com as seguintes indagações:
– E você, já calculou quanto vale sua dignidade?!
– Há quanto tempo os sábados e feriados trabalhados ao longo do ano são iguais ou superiores às férias do segundo semestre letivo?!
– Desde quando professor não é apenas – ou talvez o que menos seja é – professor; mas tio, amigo da escola, reciclador, vendedor de bingo, animador de quermesse – tudo pra, consciente ou não, mascarar as falhas (quando não, crimes) do verdadeiro responsável pela manutenção do ensino público?! Você já calculou?!
– Quantos colegas tiveram a morte antecipada só este ano devido as insalubres condições de trabalho?! Quantos estão sob amparo previdenciário por não ter mais condições de exercer suas funções ou foram requalificados por conta de patologias adquiridas no exercício do cargo, que o incapacitaram a continuar em sua função originária?!
– Você já calculou quantas horas (e quantos reais) daria o tempo trabalhado, desde que o Magistério é Magistério, após as 22 horas, sem jamais se ter sequer pensado em adicional noturno?!
– Que valor terá, diante de seus alunos e de sua comunidade, o seu discurso de conscientização, politização e luta por vida digna comparado a sua práxis?!
– Que ideia de justiça e dignidade quer transmitir para sua família, em especial seus filhos?!
– Que pegadas pretende deixar para os que, depois de você, decidirem (ou forem levados a) seguir essa íngreme trilha?!
– Você já calculou – de verdade – se, de fato, vale mesmo a pena viver quando não se tem algo pelo qual valeria a pena morrer?! Eu já calculei: pra mim, não vale!
P.S.:
1. Essa conversa não existiu; se bem que poderia.
2. O posicionamento do autor é exclusivamente seu – e eu sei bem disso. Sei que não é prudente e nem um pouco recomendável arvorar-se o direito de medir com sua própria régua as razões de ser de qualquer semelhante. Portanto, todos os que pensam e agem diferentemente de mim (nessa e em qualquer particularidade) e, como eu, têm coragem e lucidez para assumirem suas posições, todo o meu respeito e sincera admiração. Talvez nem sempre nos damos conta; mas como enxergamos as razões do outro pode dizer mais sobre nós do que como defendemos as nossas.