DESTITUINDO O DIVINO
Deus me deu o dom de escrever.
imantou-me todo com o privilégio de parir palavras que suam,
que choram, que benzem, que desbravam,
que maravilham.
Deus me cravejou com lanças atiçadas,
capazes de trazer à vida, de revirar o universo
do avesso, de afagar a morte.
Quando guio minhas palavras posso destituir o divino,
enlouquecer os mares, desfigurar o ar.
Quando incorporo minha alma de escritor,
desbravo os confins mais perdidos de mim
e me permito ser o que quiser, quando quiser.
Imagino o pânico de Deus ao perceber seu filho
lhe alcançando, lhe driblando, lhe usurpando.
Mas é desse jeito que os domadores da escrita sempre serão.