MANHÃ DE POESIA

Segunda feira. Sete horas da manhã. Apressado acabo de me arrumar para um encontro importante que teria a partir das 7:20. Na platéia crianças de 10 e 11 anos cujos olhos brilham com a intensidade que só quem é criança sabe o que é. Olhinhos atentos, cheio de vida, espalhando luz em cada piscada. Era um convite para falar com eles sobre um tema muito diferente da minha vida habitual de palestrante. Minha missão era falar sobre: poemas. Quão difícil falar para essa faixa de idade de um assunto tão importante. Mas lá estava eu atendendo a pedidos relevantes das minhas amigas Roziani e Beatriz. Uma amiga de longa data de movimentos de Igreja e outra afilhada de ensino médio e com quem tive o prazer de dançar a valsa de formatura quando ainda era um jovem professor. Nos olhos a atenção certamente solicitada pela diretora. E lá iniciamos nosso bate papo. Lembrei-me do poema que marcou minha vida escolar: meus oito anos. Que sensação maravilhosa relembrar o poema que me fez tirar um dez em literatura. O poema me veio em forma de canção e não poderia ser diferente. De repente eu que não sei nada de música e sou totalmente desafinado cantava alegremente para as crianças: Oh que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais... Não mais que depressa, ali, não era mais o palestrante, mas o menino que decorava e declamava poemas com 6 anos de idade. Meus oito anos soava melodiosamente na minha cabeça e foi o norte para a palestra. Aquilo que seria um bate papo acabou sendo para mim um momento de revisitar minhas origens, minha infância, de relembrar minha professora de língua portuguesa e seus poemas declamados, de reviver momentos com minha mãe, também ex professora. Fiz um retorno para dentro de mim mesmo e por instantes me vi ali, naqueles meninos e meninas cujos olhos brilhavam em cada palavra minha. Os sorrisos, os gestos, tudo, aquilo me fazia sentir criança novamente. Eu, que havia sido convidado para ser um palestrante estava ali me sentido menino, daqueles bem levados. E por um segundo ouvi a voz da minha professora de literatura que nos ensinando poema, cantava e nos encantava: Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras, a sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais. A lágrima correu. Primeiro de saudades da minha infância e segundo por saber que uma nova geração está sendo formada. Uma geração de poetas e poetisas que não deixarão o encanto e a magia da poesia morrer.