Minha Vida
Eu sempre falo que a nossa vida é como um livro em branco. Cada dia é uma página que escrevemos. Às vezes temos várias páginas em sequencia, e vão formando o livro. Para quem o ler pode ser interessante ou não. Mas para quem o viveu é muito bom para recordar.
Então vamos começar. Eu com dez anos já era empregado gratuito, no Bar do Sr. José Augusto Coelho, na Rua 13 de maio, em Campinas. O proprietário era um português que já estava há 10 anos no Brasil. E ele dizia a todos que com mais 10 anos ele estaria rico e voltaria para Figueira da Foz, sua terra natal em Portugal, e mostraria aos seus parentes que ele não morrera de fome no Brasil, como apregoava aos seus mais íntimos.
Então lá estava eu, sem experiência de vida, atrás do balcão do bar Coelho. Estávamos em 1944. Talvez esse fosse o bar mais movimentado da Rua 13 de maio. Fui pegando a pratica e lá pelos meus 13 anos já me tornara o líder dos empregados do bar. Graças à minha mobilidade, limpeza, respeito e honestidade.
Um dia eu fui a passeio em São Paulo. E na Praça da Sé fui comprar um cachorro quente, e notei que o atendente, um moço de uns 18 anos, usava luvas próprias, e tudo era limpo ao redor de seu carrinho de lanches, que era ligado a uma bicicleta. E ele me disse que limpeza e educação eram fatores importantes para o lucro do trabalho. Quando eu voltei da viagem eu disse ao senhor Coelho que também iria adotar a mesma tática. Eu já atendia a umas mocinhas de Valinhos, Vinhedo, Rocinha, Sumaré e Paulínia que vinham estudar na escola Normal em Campinas.
O lanche que nós vendíamos a elas era o pão de fabricação própria, mais salsicha, bifes de carne ou fígado, com muita cebola e pedaços de pimentão vermelho. Todos os dias eu atendia as garotas numa base de 20 lanches. Mas depois de 10 dias tínhamos de buscar mais pães por que o movimento foi aumentando. Ai notamos que outras garotas também vinham comprar de nós, e olhe a concorrência. Mas verificamos o motivo: o Álvaro que atendia neste setor do bar foi trabalhar em outro bar e eu comecei a atender de luvas culinárias, muito usadas no mundo inteiro e com muito mais educação. Coisa que o Álvaro tinha e todas só queriam que eu lhes fizesse os lanches. Com, o que eu cheguei até a namorar algumas dessas moças, eu já com 15 anos.
Mas com 18 anos eu ia até Valinhos ou Vinhedo. Cheguei a me encontrar em Valinhos com a Maria Fernanda, filha de um açougueiro muito bem de vida, mas que queria que eu fosse visitá-la já dentro de casa. E naquela época entrou em casa era casamento na certa. Então não nos encontramos mais.
Foi uma bela página de meu livro de vida.
Maio de 2019
Observação aos leitores do senhor Laércio. neste mês de maio de 2019, meu pai Laércio escreveu, como sempre fazia em um caderno, seus últimos textos em vida. Ele faleceu no ultimo 17 de junho. E como sempre, eu, Luciano, seu filho, passava o texto, na íntegra, para um redator de textos e colocava no Recanto.