DELÍRIOS ETÍLICOS

DELÍRIOS ETÍLICOS DE UM APOSENTADO ATIVO

Ontem à tarde eu comentei com a jovem do Caixa, no supermercado lá da vila: " - Estou precisando de uma Cuidadora. Ando meio desorientado, dispersivo. Às vezes até me esqueço onde guardei as chaves do carro, os cartões de crédito, etc."

Gentilmente, a jovem sorriu e disse: " - Se eu não fosse casada e com um bebê de 8 meses, eu iria trabalhar para o senhor, com certeza."

Animado com a atenção da simpática jovem, e uma vez que naquele momento havia outros Caixas desocupados, procurei esticar a conversa: " - Olha, seria muito legal se alguém como você viesse trabalhar comigo. Você é muito atenciosa. Quem sabe poderia me indicar alguém de confiança."

A jovem senhora então sorriu e disse que iria me recomendar para suas amigas. Pediu meu endereço e número do celular.

De imediato perguntei seu nome (Tânia Maria) e solicitei a caneta e um pedaço de papel para anotar os dados. Ao lhe entregar o papel com as anotações, nossos dedos se tocaram e confesso que estremeci com o suave contato. Que afinidade, pensei, enquanto ensacava as mercadorias. A jovem percebeu minha "animação" e sorrindo me estendeu sua mão, dizendo: "Me aguarde. Darei notícias logo que puder." Segurei sua mão entre as minhas durante alguns segundos, meio atoleimado. Ela continuou sorrindo, me encarando candidamente, mas com certo brilho malicioso no olhar. Respirei fundo. Nesse momento um casal se aproximou, colocando mercadorias no balcão. Sem alternativas, me despedi rapidamente e saí dalí "pisando sobre nuvens". Já no carro raciocinei e procurei baixar as expectativas. Não seria possível que a atendente estivesse realmente interessada em dar trela para um idoso desconhecido, mesmo que esse idoso fosse cliente habitual do supermercado e que por muitas vezes tivesse passado pela mesma Caixa, sempre fazendo comentários sobre o tempo, ofertas, etc. Até chegar em casa fui fantasiando com a jovem, por sinal bem atraente. Mas prevaleceu o bom senso, afinal, "respeito é bom e temos o dever de respeitar o próximo", em especial mulheres comprometidas. Relembrei o Nono Mandamento, fiz o Sinal da Cruz 3 vezes, pedi perdão ao Criador e fiquei repetindo, como um Mantra: "Não cobiçarás a mulher do teu próximo. Não desejarás para ti a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo ou serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem bem algum que pertença a teu próximo". Na minha infância me ensinaram que a Tábua Sagrada dos Dez Mandamentos de Deus continha muito mais do que preceitos religiosos judaicos. Seriam princípios de conduta social, indispensáveis para um convívio pacífico entre seres civilizados. E assim procurei nortear minha conduta, minha vida. No dia seguinte, logo cedo, a surpresa: O porteiro do meu Condomínio interfonou dizendo que havia uma fila de mulheres diante do prédio, afirmando que iriam fazer Entrevistas de Emprego. O Zelador inclusive já teria sido chamado, para apaziguar os ânimos entre algumas mais afoitas e induzir a formação da fila, de forma a não dificultar a entrada e saída dos moradores. Naquele momento me toquei que ainda não havia religado o aparelho celular. Tenho o hábito de desligá-lo antes de me deitar e costumeira me esqueço de religar no dia seguinte. Afogueado, afirmei ao Porteiro que já iria descer. Enquanto me calçava, fiquei imaginando se a atendente Tânia Maria estaria entre as primeiras da fila. Religuei o aparelho celular e adentrei rápido ao elevador.

(Continua no próximo Capítulo)

(*) Obra de ficção - Cotidiano Urbano - Contos Inacabados - Autoria: Juares de Marcos Jardim - Direitos Reservados - Lei nº 9.610/98.

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Juares de Marcos Jardim
Enviado por Juares de Marcos Jardim em 21/06/2019
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