NO QUINTAL DA CASA

NO QUINTAL DA CASA

No quintal da casa a mulher estende as roupas no varal, em pleno inverno; querendo tirar proveito para as secar, no breve instante de sol.

O céu, pintado de um cinza-escuro, só tem vontade de misturar os pingos invernosos de chuva, com o calor frio do sol, no dia de aspecto carrancudo.

Os urubus, até então, reunidos nos altos coqueiros, repentinamente voam, debandam para fazerem a festa eventual no meio da atmosfera sombria, nublada.

Já o sol, tão ausente, tão tímido, sem irradiar seu calor habitual, apenas entrevê (por sobre as nuvens carregadas de água vaporosa, e prestes a despejar novas chuvas), as roupas molhadas no varal.

As roupas estendidas, secam um pouco, somente pela ação do vento frio; mas a água, mesclada com sabão esbranquiçado, lhes escorre lenta, semelhando a lentidão dos dias frios; e como represas nas pastagens, forma pequenas poças d'água sobre o chão rústico do quintal.

A mulher, após algumas horas, volta ao quintal; observa o tempo e lamenta a ausência do sol; ela, o marido e os filhos, precisam das roupas secas para serem úteis em seus corpos, no dia a dia de suas vidas.

Com o semblante triste, desanimado, ela fica indecisa, sem saber o que fazer; qual atitude tomar; a família necessita de roupas limpas; os filhos precisam ir pra escola; o marido precisa trabalhar; e ela também precisa de roupas pra lida diária e pra sair.

Ergue o olhar de novo pro céu que, felizmente, cede por breve tempo, o inverno pro veranico; a mulher imagina que Deus lhe ouviu a prece, lhe pedindo que o sol reaparecesse; alegra-se com a visão divina do ocaso no final da tarde; decerto, de noite, dará uma boa notícia ao marido e aos filhos, que aguardam ansiosos por roupas secas e cheirosas.

O tempo ainda é de inverno; mas Deus faz uma pausa, cessando o frio e as chuvas invernosas; a mulher, o marido e os filhos adormecem; suas almas desdobradas se encontram e festejam juntas o luar cheio ensolarado, bem como o céu noturno estrelado.

Logo que acorda, mais cedo que o marido e os filhos, a mulher abre a porta do fundo da casa, e, antes de andar pelo quintal, olha pro tempo e sorri alegre, pois o sol de veranico brilha intenso no alvorecer do novo dia.

Pode ser que, no dia seguinte, o sol se esconda de novo; o céu mude de azul pra cinza-escuro; o dia fique com a cara carrancuda; os urubus prenunciem as chuvas invernosas; mas nesse ínterim, as roupas no varal estarão secas, em condições de serem novamente passadas, usadas, suadas e sujas...

E porque o sol de veranico pediu uma trégua ao inverno: posto que, como Astro-Rei, precisa, por dever astral, intensamente brilhar, no breve veranico de inverno.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 20/06/2019
Reeditado em 20/06/2019
Código do texto: T6677733
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