Rejeição
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“A rejeição realmente machuca - Parece que duas áreas chaves do cérebro respondem à dor da rejeição da mesma maneira que respondem à dor física, relata uma equipe de psicólogos da University of California - Los Angeles , UCLA”. (Fonte: Revista Science, 10/10/2003)
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As pedrinhas estão todas por aí; atire a primeira delas quem nunca, nem uma vez na vida, tenha vivido esse sentimento tão humanamente humilhante que é a rejeição. Basta dar um passeio pela memória: aquela vez em que o seu melhor amiguinho resolveu brincar com outra criança, sabe-se lá por quê, deixando-o sozinho a ouvir as risadas deles; quando a professora escolheu seu colega, e não você, para ler em voz alta o texto que você já tinha quase decorado, de tanto que leu – e sabia que lia bem; as vezes em que você ficava por último (e só era chamado porque fazia número) durante a educação física, quando dois colegas escolhiam, um a um, os integrantes de seus times para os jogos... e é óbvio que escolhiam primeiro os melhores! Se você não costumava ser o melhor, sabe do que estou falando.
E mais tarde, na época da adolescência, quantas vezes você foi rejeitado? Não conseguiu beijar a menina mais bonita da escola, não foi convidada para o cinema pelo garotão mais cobiçado... às vezes nem eram a mais bonita ou o mais cobiçado, mas aqueles que queríamos, e que não nos queria!
Reprovado no vestibular, preterido para uma vaga de emprego, “esquecido” de ser convidado para uma festa, deixado de lado numa concorrência, recusado pelo banco. E há o amor, onde a rejeição é quase uma constante. Não é sempre que há uma reciprocidade de desejos; aliás, é uma felicidade quando ela acontece. Quem de nós nunca foi rejeitado pela mulher ou o homem objeto de nossa paixão?
Há uma diferença, contudo, entre rejeição e exclusão. A exclusão se dá por motivos justificados, por uma incapacidade ou inadequação nossa para a atividade da qual fomos excluídos. Não consegui a vaga na faculdade porque minhas notas foram menores que o nível mínimo necessário, previamente estipulado; não vendi o meu produto ou serviço porque o preço foi maior que o de meu concorrente; não pude fazer o trabalho que me propus a realizar ou não consegui o emprego ao qual me candidatei porque minhas qualificações não atendiam às expectativas ou necessidades de meu cliente ou empregador. Enfim, na exclusão tudo é explicável e até mensurável, enquanto a rejeição não. A rejeição é uma não-escolha baseada em sentimentos irracionais que abalam nossa auto estima.
O sentimento de rejeição, infelizmente, faz parte de nossa rotina. E, como tudo na vida, há que se lidar com ele. E eu tenho as minhas maneiras, que relato aqui, não por achar que sejam as melhores, mas porque são as que conheço, e que no fim das contas me são eficazes.
Tento sempre me lembrar de que todo o universo está em nós; somos tudo o que quisermos ser, mas não podemos agradar a todos, pois cada um também é um universo, com suas características, complexidades (e necessidades) próprias. Assim, muitas vezes rejeitamos e da mesma forma somos rejeitados, em virtude de nossa própria grandeza. Por outro lado, estamos inseridos em um universo muito maior e nesse contexto não somos absolutamente nada; é necessário estar consciente de nossa condição de total insignificância para que nos situemos em nosso devido lugar.
O difícil é organizar estas duas idéias antagônicas, de tudo e nada, para nos posicionarmos perante um sentimento de rejeição. Pois não é a rejeição propriamente dita que nos deprime, mas a sensação de desamor que advém dela. Assim, se nos lembrarmos de nossa insignificância, podemos muito bem relevar esse sentimento, já que provavelmente não encontraremos nada que o justifique; e nos conscientizando de nossa importância também – porque neste caso, saberemos muito bem das maravilhas que quem nos rejeita perde!
Para equilibrar-me nesses dois extremos, vejo a auto estima como uma substância que possui uma característica interessante: quando é excessiva, fica comprimida dentro de nós mesmos, sem poder se mover; preenche-nos internamente, e quem sabe até pressione o cérebro e o coração, fazendo-nos agir de forma prepotente e orgulhosa, desprezando quem não julgamos que esteja à nossa altura. Por outro lado, se for pequena demais fica solta, circulando à toa dentro do grande espaço vazio interno em nós, sem força suficiente para romper nossos limites - e a cada rejeição seu nível despenca até atingir um patamar tão baixo que pode torná-la irrecuperável.
Deve haver um nível ótimo de auto estima que, sem nos preencher completamente, imobilizando-a, e sem ser tão pequeno a ponto de possibilitar que ela seja extinta após uma rejeição, tenha vigor suficiente para fazê-la movimentar-se e extrapolar nossa pele, saindo para fora na forma de amor ao próximo, espelhando-se no outro e voltando para nós renovada. Ainda que sob rejeição, ou até por conta dela, recicla-se e se reinventa, fortalecendo-se e fortalecendo-nos. O amor próprio, quando existe de forma saudável, é matéria prima para o amor ao próximo. Por isso, acredito que não deva nos faltar - e nem nos locupletar.