Nuvens cor de rosa
Entreguei a chave e bastou. Voltei para onde deveria esperar. Como companhia, as nuvens cor de rosa que mais pareciam algodão doce com uma leve pitada apocalíptica. Enquanto isso, logo ao meu lado a polícia acena para um rapaz e estacionando a conversa se estende, não parece muito amigável. Sob as nuvens doces os homens pagam por suas irregularidades. E as luzes da cidade vão se acendendo pouco a pouco, os últimos clarões do dia se despedem num piscar de olhos e já é noite e a lua é cheia e a noite é fria. A espera continua sendo minha melhor amiga em tantos anos nunca conheci outro alguém mais fiel. Observar a vida passar é curioso, ainda mais quando se chegam reforços da polícia. A conversa decididamente não é amigável e a menina parada ao meu lado já acha que estou olhando para ela, mas eu estava olhando além. É melhor parar. Não. Não é melhor parar, devo continuar e observar. O trânsito já se enfileira, fruto das luzes policiais, cada um cuidando das suas próprias irregularidades, para que não venham à tona em plena terça-feira. A carona da menina chegou, ela entrou sem esboçar muita simpatia, parece que não era eu o problema de antes, ela também esperava, mas não conseguiu fazer amizade com a espera assim como eu fiz. Agora o banco está livre, eu, minhas malas e a espera. Sorrimos uma para a outra como duas velhas anfitriãs de um baile místico. Recebemos os convidados e alegres os encaminhamos para suas devidas mesas. Será que ele virá? Essa é a pergunta de sempre, respondida com caridade pelo silêncio que se alonga.