O OBJETO DIRETO E O PEIDO PEDAGÓGICO

O OBJETO DIRETO E O PEIDO PEDAGÓGICO

Movido a excesso de cafeína e furor pedagógico, estava eu obstinado a aproveitar até o último momento de minha aula, algo que ia contra a motivação discente que, por sua vez, não via a hora de ouvir o sinal do intervalo para sair em disparada como manada de gnus.

O tema da aula era o objeto direto, aquela porção, punhado de palavras, enunciado ou pedaço de oração que completa o sentido de um verbo transitivo direto, que, por sua vez, pede complementação. Traduzindo o que falei, grosso modo, o verbo “comprar”, por exemplo, é transitivo direto, primeiro porque quando você diz “comprei”, fica a dúvida “o quê?”. Segundo que essa dúvida é um indício da necessidade de objeto. Então, você pergunta “comprei o quê?” e responde “uma bola”, pronto, eis aí o seu objeto direto. Agora, se esse objeto vier precedido de preposição, temos um caso de objeto indireto. Esse caso dá pra perceber logo na pergunta ao verbo, quando você diz “gostou de quê?”, e a resposta “gostei de você” - objeto indireto: “de você”.

Pois bem, estava eu em uma aula sobre esse assunto, quando um aluno levanta o braço, animando minha expectativa docente.

- Professor, falta 3 minutos? – puxa que decepção, pensei. Estava tão empolgado achando que era uma pergunta sobre a aula e era apenas uma pergunta motivada pela ansiedade pré-intervalo.

- E daí? Nós vamos quando o sinal bater. Não é essa a regra? Vamos fazer o seguinte: alguém me explica agora a definição de objeto direto e dá exemplo e eu solto todo mundo – disse isso me sentido como Caronte à beira do rio Estige.

Silêncio... pensei até ter ouvido grilos no fundo da sala.

- E então, turma?

- Ah, ô professor, cê não vai soltar...?

- Peraê! Para tudo! – aproveitando a pergunta do garoto, resolvi transformar aquela ansiedade em aula - Há uma zona cinzenta nessa tua pergunta.

- Como assim?

E tomando fôlego continuei: - Cê não vai soltar o quê? Posso soltar o prisioneiro, posso soltar pipa, posso soltar a voz, posso soltar a franga, posso até soltar... UM PEIDO!

A gargalhada tomou conta da sala. Nisso, o sinal bateu. Todos correram como maratonistas em final de prova para o famigerado intervalo. A gritaria foi geral.

Uma pena, mais um pouco e eu tinha mesmo soltado um “peido pedagógico” para exemplificar o conceito ensinado. Afinal, toda a estratégia é válida, não é mesmo? Fazer o quê? Fica pra próxima aula. Assim aproveito para incluir mais ovo e repolho no planejamento.

(Profirmeza – 19/06/2019)