A Magnitude da Inconsequência
Tenho andado inconsequente, admito. E nunca estive tão bem, admito. Tentei alinhar, fazer sentido mas não fui bem sucedido. Logo, abracei os vários eus que existem em mim e sentei para tomar um café com eles. Eu que nem gostava de café. Pude ouvir o que cada um buscava e diante das demandas fui estabelecendo estratégias, terminado o encontro, derramei o que sobrava de café nas anotações (o eu desastrado se
manifestando nos momentos mais importunos) e as estratégias foram pelo ralo. Fui lembrando do que havia anotado e adaptando da forma que podia.
Tenho andado preguiçoso, admito. Mas é uma preguiça saudável, é preguiça de mim, de você, de nós. Minha inconsequência é finalmente aprender a lidar comigo e com as pessoas que me habitam. Minha inconsequência é saber me afastar quando preciso, e quando precisam que eu me afaste. Minha inconsequência não é desmedida,
pelo contrário, controlada. Minha inconsequência é problema meu, se serve de consolo estou bem com ela, não se preocupe.
Tenho andado meio torto, a coluna pesando pro lado esquerdo da vida. Tentei ir pelo direito, mas não fui bem sucedido. Queria poder centralizar, mas algo me diz que ainda não. Tenho andado agradecido, minhas reclamações têm se seguido de risadas, não estou me levando a sério. Já me levei a sério de mais, funcionou por um tempo, mas os monstros são outros, estes são destruídos pela leveza do bom humor. Sente, beba um pouco, é vinho. Tenho aqui também, se quiser. Você sabe bolar?
Tenho andado com desejo. Devo ter sido criado errado, aprendi que desejo se mata. E não falo em controlá-los e ignorá-los. Falo sobre saciá-los. Tenho prestado mais atenção no que tenho feito (minha inconsequência sendo contrariada), e isso tem feito sentido, os dias seguintes já não carecem de interpretações. É... tenho andado inconsequente, e dirigido por aí, pegando carona comigo mesmo. Parte de mim sabe onde chegar, parte de mim acha excitante não saber. Sinto que posso pegar o caminho contrário e não me arrepender, é que é preciso apreciar. Apesar de tudo me perdoo. Inconsequência, condenável mesmo, é não viver.