As vantagens e desvantagens de ser uma estátua
Será que as personalidades consideradas grandes heróis nacionais, em sua maioria já mortas, experimentam algum tipo de satisfação em relação aos monumentos que foram e ainda são erigidos em sua homenagem?
A razão naturalmente nos diz que para um morto não existe a possibilidade do experienciar algo. Contudo, para os que como eu, compreendem que defunto é apenas o corpo, um Espírito civilizado ainda ligado a este planeta quase insignificante, deve estar, assim como muitos de nós aqui, indignado com a depredação e a situação de abandono de grande parte dos monumentos públicos pelo Brasil afora. Ora, mas se por estas bandas se abandonam até crianças?! Sei não, acho que essa gente tem coração de pedra.
Se os nobres feitos que já realizei nesta vida merecerem um dia uma estátua em minha homenagem, eu quero que este monumento seja erguido em praça pública; não para ser admirado pelo populacho, pois até onde sei: ainda não se teve notícia de qualquer estátua, seja lá em que material fosse esculpida, que tenha se deixado afetar pelo sentimento da vaidade.
Não! Por certo minha caricatura tenebrosa e insensível deverá servir a um propósito mais relevante, centro de defecação de pombos, preservando quem sabe, a cabeça de milhares de passantes.
Se eu tivesse um filho _ eu só tenho uma sobrinha _ dar-lhe-ia três conselhos antes que ele pudesse me colocar num asilo. Conselho número um: Se resolver se casar, case-se com alguém com quem aprecia conversar e compartilhar seus sentimentos íntimos, pois viver ao lado de uma pessoa que não nos compreende e que tampouco desejamos compreendê-la, é garantia de uma vida conjugal marcada pela desolação.
Conselho número dois: Se quiser um ser totalmente fiel a você, incapaz de contestar qualquer de suas decisões, adote ou compre um cachorro, porque até mesmo nossos smartphones, tablets e computadores pessoais, vez ou outra contestam ou impedem nossas decisões. Mas, os cães não. Em verdade os caninos se conservam leais até nos atos mais idiotas ou violentos de seus donos, como quando lhe aplicam chutes raivosos no meio do focinho.
Conselho número três: Parafraseando o grande Victor Hugo, seja o dono do seu dinheiro e nunca permita o contrário.
Ainda em relação ao dinheiro, pratique sempre o desapego, e jamais o desleixo.
Se eu fosse uma estátua, não precisaria de conselhos; não sentiria calor ou frio; não experimentaria a fome ou a sede; não conheceria a dor, a angústia, a raiva, a inveja ou a tolerância. Todavia, se engana quem pensa que seria invencível, pois o implacável tempo me venceria.
Se eu tivesse uma filha, dar-lhe-ia o nome Cláudia. O motivo? Nada em especial, apenas acho esse nome bonito.
Eu a ensinaria a fazer poesia, ou pelo menos tentaria.
Juntos leríamos Cecília Meireles, e morreria de ciúme quando o primeiro namorado me roubasse a sua atenção. Ah, mas logo a perdoaria quando me prometesse um lugar cativo em seu coração, falando assim: "Eu te amo, paizão"! E felizes nos abraçaríamos.
Se eu fosse uma estátua, nunca saberia o que é o amor em nenhuma de suas muitas manifestações. Não sentiria em lábios tão rijos o doce beijo da namorada. De nada me serviria ser feita de mármore, bronze, rocha, ouro ou prata.
Felizmente não sou uma estátua. Sou escritor, com pretensões de um pescador de leitores, e com a alma de um poeta.