Beleza hidrossolúvel e a ilusão de ser bela!

Bastou-lhe apenas um banho para que toda sua beleza fosse dissolvida pela água e perdida pelo ralo. Agora, desprovida das artificialidade, ela era quase irreconhecível.

Sua voz permanecia a mesma; por isso, e unicamente por isso, era possível ter certeza de que se tratava da mesma pessoa.

Aquilo que era, até então, um fator atrativo, era agora algo a ser ocultado, devido a repugnância que lhe causava. Incomodava-lhe deixar a luz acesa.

Depois de uma hora, após realizar com mestria aquilo que se propusera a fazer, dirigiu-se ao espelho, abriu a bolsa e começou a cobrir o rosto com as artificialidades que há pouco a água dissolvera. Após concluir, sorriu : voltou a se achar bela! E realmente tinha ficado bela! Mas que alegria poderia proporcionar uma beleza escravizada pela artificialidade?!

– “ Toda alegria nasce da ilusão'', disse-me ela como se tivesse lido meus pensamentos.

Pensei em travar uma discussão filosófica a respeito da beleza, da alegria e da verdade, mas como poderia acabar uma discussão filosófica com alguém que teme mostrar a cara, alguém que sempre se esconde camuflando-se?!

Não!! Não deveria eu dizer coisa alguma!

Talvez ela tenha realmente razão ao afirmar que toda alegria nasce da ilusão: a dela, da ilusão de ser bela; a minha, da ilusão de não saber verdade!

MAIKON JEKSON
Enviado por MAIKON JEKSON em 17/06/2019
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