Diálogos celestiais também falam de futebol

(texto originalmente publicado em julho de 2018)

-- Pedro, que comoção é aquela que estou sentindo naquele planeta miraculoso que criamos para experiências... como é mesmo o nome?

-- Terra, Mestre.

-- Isso, isso, a Terra. Onde colocamos benesses sem fim e aquelas almas recalcitrantes recolhidas por todo o universo que ainda tinham muito que aprender. É de lá que vem essa energia que estou sentindo que destoa de todo o cosmos?

-- É de lá mesmo Mestre.

-- O que se passa por lá? Alguma catástrofe natural? Alguma convulsão daquelas almas, que pelo que já vimos vivem a meter-se em guerras e conflitos?

-- É a copa do mundo de futebol, Mestre. Seleções dos países enfrentam-se, a vitoriosa é a campeã mundial de futebol. Acontece a cada quatro anos.

-- Mas, futebol?! Não é aquele esporte jogado até por moleques descalços e famintos de periferias miseráveis, em campos de terra ou areia nas várzeas ou nas praias? A bola às vezes improvisada com trapos e trastes velhos?

-- Isso mesmo. Justamente por isso tornou-se um esporte mundial, praticado por todos. A copa do mundo é o único evento esportivo que para todo o planeta. Todos a acompanham, até mesmo os países cujas seleções não chegam a classificar-se para o certame, que é muito disputado. Mas hoje em dia mudou muito. Continuam acontecendo peladas nas praias e várzeas como antes, é lá que aparecem os talentosos. Mas os craques são negociados a peso de ouro. Fortunas incalculáveis giram em torno dos clubes, das seleções, dos campeonatos e dos direitos de imagem.

-- Então é isso! E essa vibração que senti é em consequência de algum confronto especial?

-- Sim, foi uma partida em que jogou o Brasil, lembra-se? Aquele país que o Mestre propositalmente abençoou dentro daquele planeta já abençoado, mas que não vinha dando certo por causa dos desacertos de seu povo e dos dirigentes por ele escolhidos? Pois o Brasil já foi uma potência no futebol. Dizem especialistas que o esporte foi o responsável por erradicar um certo complexo de vira-lata que acometia aquele povo peculiar. O adversário do Brasil desta vez foi a Bélgica, dos chamados diabos vermelhos, um país da Europa. E eles venceram o Brasil. Foi um jogo disputado, mas os diabos vermelhos souberam se impor. Marcaram o primeiro gol meio casualmente, e então o time do Brasil abalou-se, desestruturou-se. Quase levou outros gols logo em seguida.

-- Óxi! Até no futebol essa concorrência... Nós tramamos para emancipar aquele país e seu povo, e vêm os diabos vermelhos e os derrotam?

-- Pois é! O Brasil vem sofrendo derrotas amargas. Há quatro anos a copa foi lá no país, e sofreram uma humilhante derrota dentro de casa, para adversários que eram tidos até então como fregueses históricos...

-- Estou me lembrando disso. Não foi quando nosso Departamento de Compensação de Iniquidades teve de interferir, por conta de uma grosseria sem precedentes para com a presidenta, a primeira mulher eleita para governar o país?

-- Isso mesmo Mestre. Sua memória está melhorando com aquelas rezas de Santa Luzia e as infusões de alho com losna.

-- Mas diga-me, como o Brasil que já foi uma potência no futebol anda sofrendo essas derrotas? Desta vez nosso Departamento de Compensação de Iniquidades não interferiu. Ou interferiu?

-- Não foi preciso, Mestre. O time pareceu encarnar a frouxidão do povo do país diante de adversidades recentes que têm acontecido por lá. Aquela grosseria com a presidenta eleita na copa anterior foi só um detalhe. Muita coisa tem acontecido desde então. Sabe aquelas benesses todas com as quais abençoamos aquele país continente? Os solos férteis, a água abundante, os rios e a energia hidrelétrica, os minérios, o petróleo e tantas outras coisas? Pois os brasileiros não estão zelando por elas. Estão deixando oportunistas inescrupulosos que usurparam o poder entregarem as riquezas do país a poderosos e corruptores interesses internacionais.

-- Uma pena, Pedro. Mas já prevíamos isso não é? Não foi por esse motivo que colocamos juntos no mesmo país benesses naturais e um povo ainda com muito a aprender?

-- Sim, foi isso mesmo. Foi proposital. Uma experiência.

-- Torço para que essa experiência dê certo! E aquele povo aprenda que é no caráter que praticamos no dia a dia que se forja o caráter para as grandes batalhas.

Texto publicado no blog http://perrengasprincesinas.blogspot.com/2018/