TECENDO A REDE
O homem segue tecendo a rede.
A aranha suga a presa. Arranca dela a substância para sua sobrevivência.
Uma bola ao tocar a rede arranca delírios, não a substância. E o atleta faz daquilo sua sobrevivência.
A mulher tece a vida no útero tumescente. O feto comprime-se num mundo só seu, aguardando a vida-mundo. Amniótico, sereno, involucrado num mundo uno.
O mundo exterior há que ser tecido com linha de amianto, numa tessitura inquebrável.
O homem vê a rede. Enxerga nela o sonho do mundo. Um tecido alvo, deslumbrante na qual acolherá sua sobrevivência.
Abarrotada de peixe, cheia de vida.
A vida sorri todos os dias com dentes pontiagudos.
A substância tenta fugir da rede e o homem a agarra pelo chifres.
Segue tecendo a rede da substância, a rede da vida.