TECENDO A REDE

O homem segue tecendo a rede.

A aranha suga a presa. Arranca dela a substância para sua sobrevivência.

Uma bola ao tocar a rede arranca delírios, não a substância. E o atleta faz daquilo sua sobrevivência.

A mulher tece a vida no útero tumescente. O feto comprime-se num mundo só seu, aguardando a vida-mundo. Amniótico, sereno, involucrado num mundo uno.

O mundo exterior há que ser tecido com linha de amianto, numa tessitura inquebrável.

O homem vê a rede. Enxerga nela o sonho do mundo. Um tecido alvo, deslumbrante na qual acolherá sua sobrevivência.

Abarrotada de peixe, cheia de vida.

A vida sorri todos os dias com dentes pontiagudos.

A substância tenta fugir da rede e o homem a agarra pelo chifres.

Segue tecendo a rede da substância, a rede da vida.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 17/06/2019
Código do texto: T6674944
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