Ancorada na dor e no riso
A solidão chega com a noite, assim, naturalmente e acompanha-me com um copo americano de cerveja. Ando me repetindo. A sensação é que o cansaço despoja do corpo, saindo para o mundo. Essas palavras, entre um gole e outro, só podem referir-se ao rio que deságua em mim. São águas escuras de incertezas, de medo do tremendo peso de ser gente nas ondulações do tempo. Não, não é o delírio etílico. Talvez seja a solidão fluindo em mim.
Nesse desconforto dos dias, a vida segue adiante, o ser humano vai enclausurando sentimentos, suor e lágrimas. Não é preciso esmiuçar o caos, a sociedade específica o âmago, as superfícies que pontuam a atmosfera. Os bancos das praças, igrejas estão gastos, abarrotados de orações. O velho “rivotril tarja preta” é duro como pedra. Ah! Que o diabo o carregue.
Estou ficando frágil e íntima com esse papo. Esses pensamentos levam-me maciçamente de um lado para o outro. Não ande mais, digo. Ai, ai, ai! Porque continuo omissa a mim mesma. A gente bem que podia ser original.
- Podia? Nós perdemos? pergunta a voz do silêncio.
- Perder? Não. Retruco desviando o nariz.
Duas horas depois, o ócio criativo me fez ver que não aniquilaram todos os trevos. De modo algum. A força da palavra ecoou nos meus tímpanos: “O que estou mesmo procurando? Desviar os sonhos?”. Mas eles estão bem na frente, emergindo em todos os rios da nossa alma. Solto, valente, sem temer o mar.