A travessia fluídica nas superfícies humanas
Tantas são as vezes em que pensamos sobre as relações afetivas. Fizeram-me outro dia a pergunta: “por que a amizade antigamente era mais séria?” respondi que não acho que antes fosse um paraíso, mas o nosso chão anda movediço. Ávido de ter e talvez não de ser.
Estão cada vez mais altos os muros que carregam em si a densidade do descartável; amizade com data de validade limitada. A fugacidade das pessoas corre para desaguar onde?
Há na epiderme social a ideia de que para viver melhor, uma das condições é conhecer um número máximo de pessoas, inclusive aquelas com potencial de troca. E todos os dias, o ruído: o que vamos encontrar ao dobrar aquela esquina?
Aos poucos mergulhamos em mares invisíveis, imprevisível do homem. A tudo isso se dá um ar de incredulidade, de liquidez, de medo, da impossibilidade de ancorar. Ouso batizar este tempo com o clichê de praxe: “Baile de Máscaras”. Mas atrás dessas máscaras não há apenas maldade. Às vezes a beleza emerge no espaço entre uma hora e a outra. O principal talvez seja a necessidade de enfrentarmos de peito aberto essa predisposição a cólera, a exagerada aceleração do tempo. Quero pensar que é esse o sentido.
Quero também elucidar as amizades duradouras, aquelas que não são fúteis, corrompidas por circunstâncias. E fazer lembrar Hermínio Bello de Carvalho, na canção amigo é casa: “Amigo é feito casa que se faz aos poucos e com paciência pra durar pra sempre. Mas é preciso ter muito tijolo e terra, preparar reboco, construir tramelas”.
Por isso convém saber sinalizar a bússola do navegador, o curso de vida que nos remete ao pretérito, presente e futuro. Não sei se sou otimista demais.