O decreto do inimigo

Algo sobrenatural acompanha a existência na terra. Estava na capital mineira para participar de um congresso. Haveria o espaço cultural. Era a chance de eu declamar um mesclado de crônica e poema que fizera. Deveria chegar no dia seguinte mais cedo. Havia deixado o texto com a organização do evento. No retorno para o hotel, desviei o caminho. O adicto sozinho está mal acompanhado. O mesclado agora era outro. Daquele hotel, tenho relato sobrenatural. Mas agora não era Deus. Depois que usei porcaria, um espírito saiu de dentro de mim e assumiu a minha forma. Sentou-se de frente para mim. Idêntico a mim. E começou a conversar comigo. Aquele espírito apontava o dedo na minha cara e dizia que eu não podia estar ali naquele congresso, com mais de três mil advogados. Que eu não tinha o direito de estar ali. Que eu era dele. Fiquei ali paralisado. Era algo diferente, que nunca havia experimentado. O espírito disse ainda. Pra você ter certeza de que eu existo, vou colocar fogo neste quarto. Eu estava hipnotizado pelo inimigo. Não havia percebido que houvera uma combustão espontânea no controle remoto da televisão. Uma chama invisível que derreteu o controle e se alastrava para a TV. Acordei daquele transe e vi aquele espírito retornar para dentro de mim. Levantei assustado e contive aquelas chamas. Falei comigo que eu deveria combater e vencer aquele decreto. Prostrei e orei. Era madrugada. Acordei atrasado e fui para o congresso. Ao me deslocar, por onde passava as pessoas que cruzavam comigo se afastavam de mim. Aguardando o semáforo, foi assim. Até cachorro afastava de mim. No auditório do congresso, a mesma coisa. Onde assentei os congressistas ao redor levantavam e saiam. O meu poema não foi lido. Levei um bom tempo para varrer dentro de mim e colocar a vida em ordem.
edras josé
Enviado por edras josé em 15/06/2019
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