MÁ VONTADE. DESAMOR. EGOÍSMO. PERSONALIDADE FRACA.
Um dos piores traços da personalidade humana, a má vontade. Irmã do caráter fraco, o mau caráter.Se apresenta em inúmeras relações da vida.
Tive um amigo, de grandes farras, que se separou da mulher, eu já aposentado e prestando consultoria a alguns escritórios de advogados. Não ia ao Fórum, uma ou outra vez fazer sustentação oral no Tribunal.
Não gosto de bancas de cartório. Novo era magistrado, com dois anos de formado, muito novo. Praticamente não advoguei. Chamo esse louvável serviço de Fórum, hoje minimizado pela informatização, de “infantaria”. É o lado cartorário, procedimental-pessoal. Requer paciência.
Um amigo de juventude, amicíssimo, faz anos, desesperado, me telefona, encontrou a mulher o traindo com outro em um carro em rua erma. Fui em sua casa, assim solicitara. Ele em lágrimas lenço na mão.
Desfiou o novelo precedente de sua relação. Diga-se que eu já conhecia um pouco a história. Creio que procurou, por paixão, seu envolvimento com uma mulher “esperta”.
Pediu minha ajuda profissional. Como não fazia a dita “infantaria”, mas outros advogados nos escritórios onde prestava assistência, não podia pedir aos mesmos essa concessão, destaque-se, sem pagamento, pois admiti patrociná-lo sem ônus, ainda que muito abastado, amigo de grandes viradas quando jovem. Foi um erro aceitar o encargo. Não se deve ser profissional para um amigo, mas aconselhar e até indicar outro.
Fiz toda a parte tanto cartorária quanto intelectual. Difícil para minha paciência que gosta de presteza e eficiência no atendimento, tudo o que não se encontra no Brasil, principalmente no serviço público.
Ganhei o procedimento, mas até hoje, com outros advogados, o referido amigo frequenta os tribunais e recursos pela partilha de bens que não assisti como profissional, embora ao início tivesse acautelado os bens em favor dos filhos, menores à época, dando um nó na destinação dos bens do casal em favor dos filhos, ainda crianças, a parte dos bens do casal que lhe cabia de sua família, uma das mais ricas da cidade.
Por que faço essa descrição inicial? Por causa da má vontade.
Um menino e uma menina, filhos do casal, ficaram sem poder tocar no resultado dos bens até a maioridade, com os locativos dos bens gravados sob minha indicação azado para eles.
A má vontade voltou-se para a filha que em dado momento quis ficar com a mãe ainda que medida judicial cautelar por mim agilizada garantisse a guarda dos filhos ao pai.
Daí em diante, tudo para o filho que optou ficar com o pai era do maior luxo, para a filha o pior, evidentemente observada a pensão decidida judicialmente.
Onde estava o amor, a isenção de um pai para com o maior resultado de uma união, os filhos? No ressentimento que tinha da mulher, a filha tratada diferentemente por querer ficar com a mãe, coisa natural, era punida. Quando fez dezoito anos o filho ganhou o mais caro carro disputado na época, importado, BMW de ponta, a filha o mais barato e despojado de acessórios, um nacional que ninguém queria. A ponto do dono da agência, meu conhecido onde comprei também um carro para minha filha quando fez dezoito anos referir sobre a conduta do meu amigo, parcial de forma absurda.Isto tem muitos anos. Ele ficou distanciado da filha, o filho, quase que um castigo, casou com filha de uma família considerada entre as dez mais ricas do país, mora em Miami. Ignora o pai, como ele diz a mim, só anda de helicóptero, refere.
Mês passado encontro o amigo em restaurante, fala comigo alegremente e apresenta o genro que estava no local com a filha que o abandonara com justiça, porque por ele antes abandonada em termos de boa vontade, amor, e um netinho no carrinho, e diz ao genro do grau de nossa amizade.
Me fala que comprou uma casa para a filha na região, a parte de praias nobres em Niterói.Teve a sorte da filha não ser como ele, uma fonte de total desamor; retornou ao seu convívio.
O amor não tem partido ou fronteiras, o amor filial não distingue um filho de outro. Má vontade, falta de amor.
Da mesma forma reconhecimentos são mudos pela permanente má vontade, muito pobre espiritualmente.
Como é bom reconhecer uma obra, um gesto de um amigo, o amor de um familiar. Para o infelicitado pela vida por seus próprios limites de caráter, quando isso acontece, reconhecer, parabenizar, elogiar, isso vem tardiamente como arrependimento que não é mais eficaz, e chega sempre com a antecedência da mudez ou de um biombo covarde onde refletem-se suas ruínas até nos anonimatos covardes.
De forma alguma o de má vontade se soma à unanimidade em reconhecer, é sempre um pária da boa vontade. Sua vida é de má vontade, por isso sofre como sofrem os que estão perto, sofreram e quando se vê é tarde para pedir um perdão que nunca pediriam. Os que sofreram já se foram.
São os seres de má vontade péssimos caráteres que vieram ao mundo para viverem suas calamidades e fazerem seus próximos sofrerem. Desastrosamente nem se dão conta disso tamanha é sua imbecilidade. Merecem a indiferença que a compaixão contorna, mas existem limites até na compaixão.
São calamidades que todos visibilizam e assim nominam. Tenho comiseração desses seres, alguns ainda insisto em ter compaixão, mas é difícil deles nos aproximarmos, são empedernidos, de repente lá está o caráter a apontar a necessária distância. Esgotam paciências cristãs. Não se pode ser mais cristão que a cristandade. Não foi Cristo que apontou o inferno,mas veneráveis discípulos seus.
O guerreiro usa a espada e seu escudo, o intelectual seu estudo sério, amalgamado, disciplinado, formando um acervo de pequena enciclopédia, pois sabe que nada sabe, diverso daquele que se pensa intelectual e é um pobre coitado, pois diz que lê, mas não consegue criar, seu universo é pequeno, difícil haurir obras máximas.
Quem tem má vontade tem falta de amor, a quem falta amor falta Deus, faltando Deus falta tudo.
Precisamos crer em algo mais além de nós, há algo mais nesse enigma que é a vida, para ser forte ao invés de covarde, verdadeiro contrariamente à mentira pessoal persistente, da calamidade que se é, e não um Deus pessoal ególatra como pensam alguns serem quando já são anjos caídos por depressão e angústia aliadas à solidão permanente, isolados por depressão latente, ardendo nas labaredas do inferno em seus claustros forçados pelo egoísmo e patologia.
É preciso crer em algo mais além do quase nada que somos. Os ateístas são conhecidos pela irrazoabilidade, nunca serão um Santo Tomás, um Santo Agostinho, Santo Estevão ou Santo Anselmo; não passam de um gueto diminuto como os de má vontade. Não têm repercussão histórica.
Mesmo os agnósticos como Kant, Darwin e outros se curvaram à dúvida acenando para uma criação inexplicável, mas longe dos parâmetros dos descrentes. Descrer é já estar morto e sem paz, como ocorre com os de má vontade. São o testemunho de suas vidas sem vida. Pobres coitados que nem comiseração alcançam mais.