AS DERROTAS?
Preferimos esquecê-las, a memória encarrega-se de guardar na prateleira da frente, as que ganhamos, já as perdidas ficam amontoadas num canto escuro, até que por uma razão qualquer é dado o start e lá vem as lembranças de alguma derrota.
Hoje 13 de junho de 2019, enquanto eu aguardava, aproveitei para folhear o jornal ZH, que estava junto aos assentos da sala de espera. Ao ler a coluna de David Coimbra, que falava sobre ouvido absoluto, mais precisamente os de Elton John e Mozart, aflorou-me à lembrança, um castigo injusto que sofri.
Ele, o David conclui que os dois ouvidos absolutos, só tiveram êxito pelos empurrões que receberam de alguém mostrando-lhes o caminho.
Tentei disfarçar para comigo mesmo, a lembrança que eu já havia sepultado, então trouxe um ouvido absoluto de perto, o Dirceu Duro Duarte, um dos meus segundos tios, que ouvia uma música pela primeira vez e já saia reproduzindo no cavaquinho.
Quando criança, certa feita mamãe disse que eu tinha ouvido de tuberculoso, eu com pouco mais de cinco anos, quis saber qual o motivo da comparação, pois já sabia que estar tuberculoso não era bom. De tanto perguntar mamãe disse-me que todo tuberculoso tinha a audição aguçada. Acreditei, embora o único tuberculoso que eu conhecia era o nosso vizinho, o Pedro, que tossia muito, principalmente pelas manhãs, mas não parecia ter os ouvidos tão aguçados.
A vida foi passando e a minha acuidade auditiva, cada vez mais aguçada, coisa bem diferente do tal ouvido absoluto.
Já no final da minha adolescência prestei concurso à carreira militar e fui aprovado, já na primeira semana do ano letivo, os 33 alunos foram submetido aos testes para inclusão no coral.
Numa noite, depois da janta, a maestrina Dinah Nery Pereira, foi avaliando um por um de nós. Recebemos impressa a letra de uma canção, treinamos coletivamente, ela dava o ritmo através do piano, auxiliada por dois veteranos do coral. A avaliação parecia bem rápida, os aptos permaneciam e os inaptos eram dispensados.
Não tardou e chegou a minha vez, então, já nos primeiros versos ela mandou-me parar e ameaçou-me com o Renan. Renan era o comandante da Academia.
A ameaça decorreu da minha incapacidade em seguir a melodia da canção (me parece que era o Hino da cidade), coisa que a fez pensar que eu estivesse forçando para ser dito como inapto. Fiquei por último para um novo teste e foi pior.
O que de início era ameaça, constitui-se em realidade, por ordem do Comandante Renan fui castigado, tive de pernoitar na caserna, numa sexta-feira, enquanto todos estavam dispensados.