FOGUEIRAS, FOGOS E FOLGUEDOS

Era mais um dia de junho, quando a vida se transforma em festa para homenagear com tradições os santos católicos: Antônio, João e Pedro. Da cozinha da escola exalava um cheiro conhecido de todos. Lá as hábeis cozinheiras, preparavam aquelas comidas típicas das festas juninas. Bolo de mandioca, pé de moleque, broa de fubá, cocada, canjica. Também um cheiro conhecido impregnava o nariz: o tradicional quentão que fervia ao embalo da cachaça e das especiarias acrescentadas a ele. No pátio da escola, debaixo de grandes pés de pau Brasil era feito um cercado de corda. No meio dele um grande mastro com as bandeiras dos santos homenageados indicava: hoje tem festa. As professoras se incumbiam de espalharem bandeirolas, balões, coqueiros, e tudo que era possível para decorar o ambiente do pátio e feitos artesanalmente para a ocasião. A noite cai e as famílias começam a chegarem para a festa. O cheiro das comidas e bebidas se torna ainda maior, aguçando o sentido de todos. Meninas com trajes rodados e coloridos se tornam ainda mais belas com os rostos adornados de tranças e arcos. Meninos chegam com calças remendadas, bigode pintado com carvão e chapéus de palha, dando assim um colorido extra a festa. No cercado de cordas, com bandeiras coloridas tremulando no vendo, os pares se perfilam, sob o olhar atento de pais devotados, curiosos, amigos. Lá a professora que iria cantar a quadrilha em uma das pontas convoca a todos: cavalheiros e damas se preparem. Hora de começar a dança. Por mais de hora, casais de crianças obedecem a ordens ao som cadenciado da sanfona que arrasta todos para as cantigas juninas. Em outro ponto do pátio escolar a música lembra novamente os santos da devoção popular: eu pedi em oração, ao querido São João que me desse o matrimônio. São João disse que não, são João disse que não, isso é lá com Santo Antônio... As palavras em francês carregadas de um grande sotaque brasileiro vão dando ritmo a quadrilha: anavantu, anarriê, balance, tu............Alegria solta, risos, foguetes estouram no céu normalmente escuro do mês de junho. Famílias se reúnem para celebrar a vida, para se encantar com seus filhos na dança cadenciada e as crianças se reúnem ao pé da fogueira, para queimar esponja de aço e ver as fagulhas surgirem como se estrelas tivessem descido do céu. Ah que pena dessa geração que nunca poderá saber o que era uma festa junina do Grupo Escolar, quando ainda não se tinha as redes sociais, as fotografias eram de rolos de filmes e a grande preocupação era não errar o passo na quadrilha tocada ao som das modas caipiras. Ah essa geração que desconhece a alegria de depois da quadrilha tirar o sapato que apertava o pé, e sentado na calçada mais próxima saborear um copo de canjica ou um pedaço de bolo de mandioca. Uns dirão que isso é coisa do passado, outros que isso é coisa de nostalgia. Pode ser até que seja, mas para mim essa era a forma mais bonita de celebrar com foguetes, fogueira e folguedos, a vida, nas noites frias do inverno quando as homenagens a João, Antônio e Pedro traziam para si famílias inteiras cuja marca maior era o sorriso e a felicidade.