REFLETINDO SOBRE O PENICO
Hoje resolvi não trabalhar como de costume. Trabalho pesado para os meus 63 anos, estou movimentando terra de um lado do pátio para o outro, assim levantando-o e evitando o acúmulo de água, pois quero replantar um pé de araçá, um de acerola e um de castanha do maranhão.
É um trottoir interminável, vai carrinho cheio e vem vazio.
Ontem foram 15. Lá pelas tantas descobri um tesouro histórico enterrado. O lixo de um antigo morador, entre sacos plásticos estavam embalagem de leite Corlac, daquelas com os dias da semana carimbados, calçados, latas quase que totalmente destruídas pela ferrugem, tecidos sintéticos, vidros diversos e até algumas garrafas de pepsi-cola 300 ml, de todos os objetos, os mais conservados eram as garrafas, um penico alouçado e os sacos de leite. Se não fosse uma pequena escoriação na louça, que rendeu um furo no fundo, o penico estaria bom para o uso.
Nesta manhã me doíam os dedos, os ombros e os joelhos, então resolvi dar um descanso. Entre um mate e outro, lembrei do penico. Objeto que além da função para que foi vocacionado, também serve para piadas. Até já serviu para que algumas crianças brincassem de capacete e assim, lá pelos anos sessenta do século passado, uma delas foi parar no pronto socorro. Ela muito cabeçuda, propiciou vácuo no fundo do utensílio impossibilitando a retirada. Dizem que realizaram um furo cuidadoso, para não ferir o pobre menino, então o ar entrou, facilitando a retirada. Por dias ele teria ficado com uma marca roxa bem no meio da testa. Claro que o penico não é o mesmo, embora as crianças que residiram na casa, também eram cabeçudas, mas já nos anos oitenta, do mesmo século. Se fosse, estaria diante de um penico verdadeiramente histórico, mas não.
Em meados de 2010 uma autoridade, acostumada a fazer gato e sapato com funcionários alugou-me pelo telefone, não havia porque discutir, ele não tinha razão, então limitei-me a dizer - Sim senhor!
À cada investida, um sim senhor. A tortura já durava mais de 10 minutos, quando uma colega do arrogante sussurrou-me:
- "Não deixe ele fazer seu ouvido de penico!"
Pus a mão sobre o fone e respondi, que ele iria infartar.
Realmente, eu queria que ele infartasse, diante da minha apatia. Chegou ao ponto que ele perguntou-me:
- "Tu não vais dizer nada seu merda?"
Não gosto de penicos, principalmente pelos usos não vocacionados, mas pela primeira vez aceitei tal comparação, quando dizem que isto ou aquilo não é penico, nas tentativas de acomodar objetos que se assemelham a dejetos.
O produto do ócio na reflexão sobre o penico, me faz pedir que não confundam a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, com um penico.m penico.