Antonieta se foi

Me lembro muito bem daquele dia.

Acordei tarde, era um sábado, mas diferente dos outros dias, despertei por conta própria e era palpável a tensão que pairava a casa. Minha mãe com os olhos vermelhos e o meu pai sério ao telefone, sou muito sensitiva desde criança e consigo saber quando algo está errado, desta vez não foi diferente e ao observar melhor o ambiente, me veio um pressentimento, alguém havia morrido.

Tentei ouvir a conversa do meu pai e um nome foi citado "Maria Antonieta", soube naquele momento que ela havia partido, mas eu precisava de uma confirmação, questionei os meus pais e obtive uma história mal contada, cheia de eufemismos, no entanto, pude captar a mensagem e me coloquei a lembrar da figura dela.

A conheci já velhinha, a típica bisavó amável, ela foi a pessoa mais doce que tive o prazer de conhecer, nasceu no dia de Santo Antônio (13 de Junho) e sempre me contava sobre uma aparição do santo em um sonho, me lembro com clareza da história, um tabuleiro de castanhas caía dos céus, eram muitas castanhas e Santo Antônio surgia de uma forte luz vindo em sua direção.

Nunca vi ninguém contar uma história com tanta paixão, ela detalhava tudo e enquanto os adultos não aguentavam mais ouvir aquele relato repetido, eu prestava total atenção e ficava abismada com a devoção dela, não sou lá muito religiosa, mas acredito que Santo Antônio, realmente, apareceu com algum propósito para ela.

Embora eu ainda sinta muito amor, a saudade toma conta do meu peito, sinto falta do doce de banana que só ela fazia, de fazer palavras cruzadas, de ouvir as histórias, de receber os mimos açucarados que eram o nosso segredinho, de ser amiga dela.

Espero que ela tenha alcançado o seu tão almejado paraíso e esteja junto do padrinho Santo Antônio, fazendo suas palavras cruzadas e, assim espero, me mandando energias positivas, tenho esperanças de um dia ser um pouco mais Antonieta, o ser mais apaixonante que já conheci.