TERAPIA EM RITMO DE FORRÓ

A vida tem umas "pegadas", como diriam os adolescentes, que deixa a gente meio sem ação, sem voz e nos faz perder o "rebolado". Mas, em outras, o "rebolado" entra e cena e muda todo cenário e toda a programação daquela famosa listinha que fazemos ao sair de casa.

Estou numa busca constante para olhar para dentro de mim, me questionar e entender o meu próprio interior. Tem sido dias desafiadores, porque ao entrar em seu quarto e fechar a tua porta, as máscaras sociais caem e é hora de entender que o que de fato nos afeta e precisa de mudanças vem de dentro e não está fora de nós.

Para essa busca, compreendi que era necessária a busca da terapia, que óbvio que outrora eu já havia buscado, no entanto, não com a mesma intencionalidade e maturidade de agora.

Hoje, foi dia de ir a terapeuta. "Cara", dia muito "maneiro" como se diz por aí. Um dia antes sempre tem aquela ansiedade do que é pra ser falado. E, sabe aquela listinha da vida que sempre fazemos? Na terapia, nós queremos fazer a mesma coisa. E, não rola. Simples, cai por terra a partir do momento que você adentra a sala e é recebida pela terapeuta perguntando: "Como você está"? Quando isso acontece, porque será que sempre vem aquela vontade de chorar? E, nem é porque estamos tristes. Mas, sei lá! A sensação que eu tenho é que na terapia eu me desnudo se é que é existe essa palavra. Eu sou apenas eu e de verdade não estou preocupada com julgamentos porque diante de mim está uma profissional. É estranho, mas parece que conheço há anos aquele olhar e as palavras dela adentram minha alma.

Dessa forma me sinto também quando vou a igreja. No entanto, nem sempre é possível se desnudar porque existe os papéis sociais e infelizmente as pessoas nos julgam de tal maneira que não queremos expor. Raramente eu choro na igreja. Vez por outra não me contenho, mas normalmente mantenho-me firme, ainda que lacrimejando, mas não rara as vezes, sou tocada. Palavras de amor, cuidado, conserto e um olhar atento, são fatores que me movem e me faz acreditar que eu não estou aqui por acaso.

Estou enrolando, você não é, caro leitor? Vamos aos fatos, porque são "terrivelmente" engraçados, diferentes e eu diria que mudaram a dinâmica não só do meu dia, mas da minha vida.

Como eu disse, hoje foi dia de ir a terapia. Ela é diferente de várias pessoas ou terapeutas que eu encontrei ao longo da minha vida. Seu olhar é diferenciado, sua voz, sua fala, seus apontamentos. Ela é firme no que fala mas ao mesmo tempo tem um olhar humanizador. Sabe aquele pensamento do Carl Young em que ele ensina sobre dominarmos todas as técnicas, termos todo o conhecimento, mas ao lidarmos com uma alma humana, sermos apenas uma alma humana? É exatamente isso que minha terapeuta faz.

Eu ainda não tinha chorado tanto na terapia como ocorreu nesta sessão. Ela me fez pensar e repensar num emaranhado de sensações e lembranças e entender os motivos de muitas coisas que acontecem ou aconteceram em minha existência. Uma das coisas que realmente me marcou foi "Olha pra você criança e diga a ela que sua caminhada foi muito difícil, mas deu certo".

CARA!! Como eu chorei! Ao olhar para minha história e para a forma perdida com que me sinto, posso respirar e continuar. Longas histórias ainda sobre a terapia. Mas...

Ao sair do prédio, me deparei com um grupo musical cantando na calçada! Eu sempre acho música simplesmente o máximo. Era um grupo de forró intitulado "Arte na rua". Parei timidamente no canto, liguei o celular e comecei a filmar. Eles tocam algumas músicas conhecidas no universo do forró.

Imaginem a cena: Eu estava vestida de social e mochila nas costas. Com cara de choro, lágrimas que ainda eram visíveis e estava sem óculos, pois literalmente ele estava manchado de lágrimas, resquício de efeito terapêutico. No entanto, ao filmar, vi meus pés se mexerem durante a filmagem. E, quando dei por mim, lá estava eu, com a mochila nas costas a dançar pela calçada juntamente com a plateia que eu jamais vira na vida. Guardei o celular, pois não queria mais perder um segundo filmando, apenas deslumbrar e curtir o momento.

Juro que não pensei em mais nada! Na minha mente só vinha o pensamento da paz, da alegria e as lágrimas naquele instante não tiveram mais poder sobre mim e muito menos a tristeza.

Olha só! Euzinha, dançando forró em praça pública? Eu só acredito nesta história porque de fato estava lá. Uma moça tímida, com vergonha e medos por todos os lados, apenas curtindo um maravilhoso som de músicas de Luiz Gonzaga? Ah, sim. Essa é a vida. Assim quero viver, livre, leve e completamente dona de mim; sem egos, sem julgamentos e sem filmagens. Eu estava presente e isso basta, não preciso postar nas redes sociais. E, assim, a terapia hoje foi em ritmo de forró.

PATRICIA PESSOA
Enviado por PATRICIA PESSOA em 12/06/2019
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