Se vira nos trinta

André recebeu a ligação de sua irmã que lhe pedia o número do meu telefone. Tratava-se de convite para festa de comemoração da eleição de seu cunhado. André passou o celular para mim e fiquei honrado com aquele convite. Eu nem tinha conseguido votar, havia esquecido o título eleitoral em casa. Ao invés de voltar pra buscar, fui pro boteco. A festa seria na noite daquele dia. Tudo sairia bem, não fosse à danada da cachaça. De dose em dose, fiquei alto e aceso. Antes de ir pra festa, passamos no apartamento de André e lá vai uísque. Quando chegamos, eu já estava cabisbaixo e apagado. Ambiente ornamentado e superlotado. Sentei e bebi. A primeira vez que levantei meti a testa no pilar de tronco de árvore e cambaleei. De imediato assentei em uma cadeira de balanço. Precisava ir embora. Levantei e caminhei até a entrada da chácara. E esparramei pelo chão. Alguém que ali passou indo embora me embrulhou com um pedaço de lençol florido que ornava a festa. Lá pelas tantas, André me despertou chamando pra irmos embora, furioso comigo. Entrei no carro e ele me levou até em casa. Quando desci, observei que a chave não estava nos meus bolsos amarrotados. Disse a ele que eu havia perdido a chave, mas ele mandou que eu me virasse. Pensei em dar uma bicuda no portão, mas pela lei da ação e reação tinha certeza de que o portão iria me derrubar. Então, pensei. Se ele me mandou virar, eu vou virar. Lembrei que deixava a chave reserva com a mãe da minha filha. E que, por sorte, era eleitora do festejado e esteve presente na mesma festa. Rodei aquele pedaço de lençol florido no corpo e me pus a cambalear pelas ruas da cidade em direção à chave reserva. Cheguei debaixo daquele prédio e vi janela aberta e lâmpada acesa. Gritei que havia perdido a chave de casa e precisava da chave reserva. A mulher nada respondeu. Jogou a chave sem se deslocar até o parapeito da janela. Vi a chave deslizando pelo asfalto em direção ao bueiro. Meu Deus, a chave caiu no esgoto? Ao me aproximar, deparei com a chave solitária entre o vão da grade. Peguei aquela chave milimetricamente com as pontas dos dedos. Novamente rodei aquele pedaço de lençol florido no corpo e me pus pelas ruas da cidade. Em casa, entrei e dormi. Acordei de ressaca. Voltei para aquele boteco em que havia estado com André. Ia tentar um fiado, quando Gerson, dono do boteco, disse que tinha uma pessoa no bar querendo alugar uma das minhas salas do prédio de frente. Conversei com o proponente e peguei com ele cinquenta reais, adiantado. Em pouco tempo eu já havia tomado meia dúzia de cerveja. André ligou dizendo que havia encontrado a chave lá de casa na porta da chácara, que a chave chegou a reluzir a luz do sol. Falei pra ele que eu estava no boteco. Assim que chegou pra entregar a chave exclamou se eu havia ganhado o prêmio da loteria por causa dos cascos de cerveja encima da mesa, eu disse a ele que havia feito como ele mandou me virado!
edras josé
Enviado por edras josé em 12/06/2019
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