Errar é Humano
Já se pegou em erro involuntário?
Premidos pela pressa do cotidiano podemos incorrer em pequenos delitos. Movido pelo rolo compressor do costume irrefletido, fui surpreendido, certa feita, pela minha própria desumanidade.
De emprego novo no fisco estadual fui apresentado a um interessante instrumento: um bastão de madeira – e não era para o uso sórdido que sua mente desenhou. A parada no Posto Fiscal é obrigatória para os motoristas de caminhão. O largo balcão nos distanciava dos mesmos, que deviam nos apresentar as notas fiscais. Do lado de fora não nos ouviam, pois o barulho dos veículos, somado à falta de acústica da construção, impossibilitava o chamamento verbal. Não temos painel eletrônico ou alto-falante. O melhor meio de alertá-los era o bastão de madeira. Batíamos no guichê para que se aproximassem. O método funcionou durante anos. Sendo novato na atividade, considerei a atitude natural até que um cidadão alertou-me:
- Fomos reduzidos a gado para que você nos chame dessa maneira?
Aquilo ricocheteou na minha mente como um tiro em campanário. Compreendi que o homem estava certo. O que me dava o direito de tratar meus semelhantes daquela maneira? Levantei a mão, como quem pede desculpas. Ele entendeu, visto ter partido com um aceno de cabeça. Nunca mais utilizei o bastão e comecei a propagar entre os colegas a minha causa.
Fui pego em ato desumano involuntário. Espero não ser algo que me condene, diante de algum tribunal cósmico, a uma pena perpétua. Enquanto aguardo o dia do juízo, estendo a mão, ao tempo que digo:
- “o próximo, por favor!”