Os três pilares

Pensei que houvesse perdido a aliança. Talvez esquecida na poltrona da lotação. Acostumado com liberdade, a retirava constantemente. Expus o caso a um amigo que encontrei. Ele me convidou para comer espetinho. Pedi refrigerante, ele cerveja em lata. Sentados no banco da praça, meu caro amigo era quem precisava de consolo. Começou a contar o melodrama que passava. Disse que a sua capacidade estava desperdiçada. Que sua ocupação era aquém daquilo que realmente podia produzir. Queria mudar de vida. Naquela cidade o mercado já estava saturado pra ele. Ia vender o prédio que recebera de herança. Valeria um milhão e o dinheiro era pra repartir com dois irmãos. Era pegar sua parte e se mudar para Porto Seguro. Perguntei-lhe se em Porto Seguro teria trabalho. Ele respondeu que pensava adquirir uma pousada, mas tudo ali era sazonal e o negócio rentável apenas no período de temporada. Perguntei-lhe se teria família. Ele respondeu que pensava ter diversas namoradas, mas como tudo ali era sazonal não teria família. Perguntei-lhe se teria espiritualidade. Ele respondeu que pensava em tomar capeta. Meu caro amigo já havia tomado algumas latinhas de cerveja. Disse a ele que dificilmente alcançaria três pilares: trabalho, família e espiritualidade. Se gastasse um real o dinheiro ia todo embora. Fomos embora. Meu amigo me levou de moto e se despediu de mim. Em casa soltei a novidade de que havia perdido a aliança. No dia seguinte, um anjo deixou a aliança caída no estofado.
 
edras josé
Enviado por edras josé em 10/06/2019
Reeditado em 10/06/2019
Código do texto: T6669640
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