FALTA DE AUTOESTIMA. KANT, TOMÁS DE AQUINO.
“Aquele que anda de rastros, como um verme, nunca deverá queixar-se de que foi pisado por alguém”. Kant.
Anda “de rastros” quem se deprecia e tem sentimento de inferioridade confessado. Isso carregado pela vida afora traz o fardo da alma pequena que não ascende para ver com mais claridade o sol da vida, que se manifesta no pensamento. Ao revés, abre caminho para o fosso da depressão e instiga o surgimento dos mais baixos valores humanos,
O inigualável e prestigiado criador da “Crítica da Razão Pura”, Kant, mais do que ninguém, por sua precisa, elaborada e única filosofia, que clarifica as mais impenetráveis indagações, podia com autoridade fazer essa advertência principalmente aos que incorporam as retóricas sobre si mesmos, negativas.
Existem os que se depreciam por vaidade, é a hipocrisia visível, travestida de um mérito inexistente diante do demérito escancarado e visível, e por isso mesmo se locomovendo e transitando na vida embalado por complexos que perseguem aplausos como em um circo. São os palhaços sem picadeiro e com plateia de iguais. Só há limite para a estupidez, não para a ignorância, sempre soberba, porém pobre. É a soberba que se compensa na ufania sem atavios ou ornatos por faltarem meios. Se diminuem os que diminuídos se encontram para tentarem galgar espaços nunca conhecidos ou frequentados. Mas continuam em seus sítios vivendo com os mesmos personagens. Os fantasmas da não realização. São focos da piedade necessária que traga compreensão e paz para a insensibilidade de seus interiores. Oremos por essas almas.
Os vaidosos se diminuem pela detração própria, por perda da sensibilidade de acharem o que não são e postularem as alturas onde nunca estiveram ou estarão. São pobres de espírito. Nenhum testemunho melhor, o próprio testemunho, isso leva ao caos espiritual.É preciso estar desperto como ensinava Buda.
O amor próprio deve ser medido na mesma balança destinatária dos pesos da vida onde a caridade e a doação pessoal fazem a diferença, por isso por estas almas devemos orar.
Os simplórios por suas próprias raízes sempre estarão onde viram transcorrer suas vidas sem expressão e nelas se ajustaram e assim permanecem, mesmo lutando para se livrarem dessas marcas que não os diminuem, embora pessoalmente se diminuam, e não os deixa avançarem. E restam assim em extrema infelicidade.
A mediação das posições que envolvem amor e sensibilidade não podem estar entregues à retenção das emoções mais nobres. Todos, mesmo os que se denigrem, não são vermes que rastejam e se alimentam da podridão, mas ficam assemelhados. São assim só os insensíveis que incorporam as faltas capitais, que degeneram a vida e simbolizam a crueldade, a soberba, a inveja, a usurpação, o desalinho da correção com todas as obrigações da consciência sadia.
Os insensíveis são os vândalos do espírito. Se estimassem a humanidade estariam próximos de Deus, ou ao menos da reta caminhada sob o pálio da Lei Moral.
Tomás de Aquino, teólogo maior, considerava a "tristitia alienum bonum", como a tristeza pela felicidade dos outros. É como se portam os que não têm amor próprio, o “não viver suas realidades”.
A isso nomina-se absoluta cobiça, a falta de autoestima traz a tristeza pelo que o outro tem. A dificuldade de entender a prosperidade, a beleza, a inteligência que não se tem, mas temos o que nos foi concedido.
Dante Alighieri colocou a cobiça com os olhos costurados com arame. Era o castigo, a condenação de não ver mais nada, até expiarem seus enormes problemas vividos, purgarem esse vil pecado.
Os olhos costurados com arame, tem a ver com a não visão que a a falta de amor próprio provoca. Na "Divina Comédia" o purgatório é figurado para uma montanha que olha para o céu, o Paraíso. Como gravidade, quanto mais baixo, mais vizinho do inferno.
De nada adianta não nos voltarmos para nossos próprios passos na vida, vida por nós vivida, não somos a vida dos outros, nunca seremos. A inveja e a cobiça matam aos poucos, entre extremos sofrimentos e amarguras.