O desespero da surpresa
Acordou com a melancolia de estar vivo numa sexta feira de sol mas com tempo frio no Rio de Janeiro. Levantou da cama tomou banho, fez café, algumas flexões, outro banho e estava pronto para sair.
Estacionou seu Fusca na vaga de sempre, foi até a sala dos professores e aproveitou o silêncio antes das aulas. Pela janela olhou o vento nas árvores, as pessoas apressadas, como sempre, o rio que corria sujo entre o bosque. Essa paisagem era linda nos anos passados.
Os outros professores chegaram, bagunça, conversa e café. Ele se juntou aos outros, mais conversas e cafés, promessas de sair todos juntos mais tardes. Ele foi pra aula.
Machado Quaresma deu sua primeira aula do dia e a sexta- feira se arrastava.
No intervalo foi para o bosque, pegou um copo com água e um outro de café antes, fumou devagar e bebericou o café olhando os alunos.
“Já reparou como estamos acomodados? Nunca estamos satisfeitos com nada, não sabemos lidar com a surpresa dos fatos. Sempre acomodamos com o nosso cotidiano que ficamos desesperados quando a mudança ocorre. É o plano traçado para dar certo que deu errado ou se tá trabalhando demais reclama, quando chega o fim de semana e as reclamações mudam o foco pra: não tem nada pra fazer que vida chata! Na maioria dos casos nós somos os culpados por não buscar a mudança no cotidiano, é mais fácil reclamar do que correr atrás”.
Olhou para o sol entre os bambus, pisou na terra, ainda úmida, suspirou e coçou o cavanhaque “O que nos falta para ser feliz? Ou para estar satisfeito?”
Uma aluna lhe tocou o ombro e sorriu perguntou se não iria dar aula hoje. Olhou o relógio e levou um susto
Três minutos de atraso, desesperado correu para a sala.