NOVOS JORNALISTAS E A DESEDUCAÇÃO. INTERNET, SEU LADO NEGATIVO..

Tudo é possível hoje na internet. Um avanço na comunicação e um atraso na cultura, mesmo a mais restrita. Nada que impeça uma aproximação maior nos padrões desejados pela convivência civilizada.

Mas em áudio ou grafando todos viraram jornalistas, o que requer inclinação, um certo dom, e se grafado conhecimento mínimo da língua, e da fala para que não se dissemine solecismos.

“É realidade somente os bens materiais, os problemas sociais, econômicos e políticos? Aqui está o grande erro das tendências dominantes do último século.” Disse o Papa emérito Bento XVI. E responde com a divisão existente de certas épocas para cá, nos ritos políticos sociais, e com fundamento do papel da Igreja como instituição.

E esse é o eixo de tanta deseducação em todos os sentidos propagado pela internet.

“Tanto o capitalismo como o marxismo prometeram encontrar o caminho para criação de estruturas justas. Esta promessa tem-se demonstrado falsa.” “A Igreja é advogada da justiça e dos pobres precisamente ao não identificar-se com os políticos nem com interesses de partidos”. “Igreja é fé em Deus não é ideologia nem movimento social”.

Nenhum ser humano está além ou aquém do outro, de seu semelhante. Ordem natural da humanidade desde o surgimento do imã centralizador de todas as convergências, o homem. Seu pensamento anda caminhos diversos. Mas cada um se prepara formalmente para suas atividades, ou nada representa, e deseduca.

Como razão primeira e única de toda formação dos primeiros grupos o instinto identificava inicialmente o homem. Ao sabor do tempo, face ao seu evolver e vários estados pelos quais passou, cada um tem seus reclamos de suplementação do que foi instinto e revestiu-se de “logos”.

Distintos caminhos preferenciais, interesses e possibilidades de apreensão, trabalho das faculdades naturais por cada um adquiridas de genéticas, formações e capacidades surgiram.

São diversos os graus de percepção, assimilação e interpretação, inteligência enfim. Em sala de grupo, ensino, destaca-se quem é quem.

Capacidade é condição inerente ao conhecimento da atividade ou profissão que se desenvolve. Sem capacitação não há avanço. Essa vontade de ser jornalista sem ser, espalhando desinformação e engano sobre variados temas sociais, não se confunde com liberdade de pensar e se manifestar. São coisas diversas. Para isso e por isso existem jornais, mesmo na antena hoje, com filtros editoriais. Mesmo assim noticiando mal. Imaginem qualquer um sem base alguma, pouco alfabetizado, sair abrindo áudio ou blogues e deitando “falação” sobre o que não sabe e as vezes nem ouviu dizer. Surpreendem as barbaridades que ouvimos e lemos.

Toda formação dos primeiros grupos lastreava-se no instinto.

Parece que continua o fator instintivo identificando o gosto dos “novos jornalistas”.

Capacidade é condição inerente ao conhecimento da atividade ou profissão que se desenvolve; repito. É similar a sucesso, ser vencedor. Sem capacidade há uma “captio diminutio” pessoal, ou seja, a relativização da apreensão de conhecimento.

De um salto, após a mera diferenciação pelo instinto, sedimentam-se diversos estágios sociais-culturais para o ser humano, absolutamente distintos, incompreensíveis para alguns o entendimento de outros e suas falas, sua cultura.

Há um fator que barra o entendimento, o pensamento construído, sendo absolutamente ficto e inviável nessa abordagem considerar o valor dogmático mais alto e de estreita penetração, a compreensão.

O pensamento em conjunto com sua manifestação (capacidade) encontra a barreira da incapacidade, o desencontro do desconhecimento com o conhecimento. Basta dizer que se recepciona e contesta a mesma tese.

Nem mesmo a simplicidade exercida pelos filósofos para explicar os atos e fatos da vida, os mais singelos, simplórios até, alcança êxito. Nem ainda a prática da linguagem coloquial, distante da língua culta e erudita, colhe proveito, mínimo entendimento.

Não basta a experiência “é preciso elevar-se acima do impuro conhecimento que nos vem pelos canais deformadores dos sentidos”, como ensinava Kant em sua “Crítica da Razão Pura”.

Exalto e enalteço o alcance da internet como veículo de comunicação e congraçamento, de comunhão e viabilização da palavra tão em voga, que tem como núcleo a depuração de arestas ásperas para galgar o cume do entendimento, já que compreensão é privilégio de uns poucos bem como seara de porta fechada para quem fica distante do estudo, da reflexão, da pesquisa e do mergulho no interior do eu despojado de vaidades, entrave e gravíssimo obstáculo para iniciação no processo da compreensão. É pura vaidade querer ser o que não se é, nunca se foi ou será sem estudo, sem conhecimento mínimo da língua, jornalista. São centenas e centenas hoje nessa pretensão vaidosa. O testemunho dá a internet, a válvula de escape.

É preciso erudição e vasta cultura geral, muita leitura para compreender, mas basta empirismo para entender. Se exalto a internet, sua produção excelente que se encontra neste espaço, vejo ao mesmo tempo nessa ponte de indefinível alcance, um meio disseminador também do comprometimento da cultura e das línguas, tantas são as violências que sofrem, e o pior, com ufanismo e celebrização. Salve-se quem pode separar a desordem de pensar da ordem.

Concordância em número é uma afronta total, em gênero é menor, em grau absolutamente sofrível. Cedilha, s, rr, z, significação de vocábulos, concordância do verbo com o sujeito é um errar permanente, verbos irregulares são hieróglifos. Falar em exceções, na possibilidade do sujeito composto concordar com verbo por atração, com o sujeito mais próximo, facultativamente, é palavrão, ou em figura de sintaxe, ou em outras particularidades da língua; tudo isso, nem pensar.

Não existe gramática no momento para pretensos comunicadores, por mais exígua seja sua recepção, espalhando erronia e solecismos. A ortografia é brutalmente espancada, tranquilamente. Isto é péssimo. Não falo de possíveis sutilezas, falo do rotineiro, da língua do dia a dia. Muita coisa se grafa sem nexo. Nada se entende.Qual a razão da abordagem? Aqui se estabelecem as diferenças entre os homens sob o aspecto cultural pela via da comunicabilidade; o pensamento publicado por um dos meios da comunicação. Impõe-se severa fronteira, nítida linha divisória entre o pensamento culto que se informa em livros ou impressos em geral, trincheira limpa e pura da cultura, filtrada por editores e patrocinada. Quem fará esse controle? A recepção da comunicação como na constituição apregoada e garantida, sendo direito híbrido, direito de se comunicar e de recepcionar a comunicação.

Como sinalizava Kant, o pensamento lançado sem reservas, como acontece na mídia eletrônica, sem conteúdo crítico, embasamento, é pensamento excretado já que se circunscreve ao resto, o que se joga fora por nada trazer de construtivo, novo em termos de informação ou criativo. NÃO EXISTEM FILTROS. Fala-se muito em educação, mas entendo que é um dos mais importantes meios na atualidade de propagar a deseducação. Uma lástima, porém o reduzido alcance dessas produções já exercem um controle mínimo. Restam em seus nichos apertados, no mesmo nível. De qualquer forma perigoso para a educação mínima.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 06/06/2019
Reeditado em 06/06/2019
Código do texto: T6666366
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