Quem matou Verinha?
por Gabriella Gilmore
Quando criança, eu conheci uma das amigas de mamãe do seu trabalho na TV local. Verinha era uma mulher muito marcante e bela. Com seus cabelos negros, lisos e aquela franjinha sempre impecável faziam com que nós crianças pensássemos que ela era uma estrela de novela.
Aos domingos, Verinha adorava almoçar conosco, afinal, mamãe sempre fazia o melhor pescado da feira dos finais de semana.
Um tempo depois, mamãe se converteu a um culto e perdeu contato com todos os amigos da TV. Ela achava que sua vida passada era “pecaminosa” demais e não valeria a pena manter contatos com o pessoal para não cair em “tentação”. Mas isso era apenas coisa da cabeça de mamãe, talento esse que herdei ao ter a mente sempre muito criativa e cheia de teorias da conspiração.
Anos mais tarde, eu já estava entrando para a vida adulta, estávamos todos os irmãos sentados à mesa para o lanche típico do sábado à tarde, e mamãe nos entregou uma notícia muito triste:
- Encontrei com Otávio da TV Mocidade e ele comentou que Verinha morreu.
Mamãe disse que seu semblante ficou abatido instantaneamente com aquela notícia, afinal, Verinha sempre fora sua grande companheira de trabalho.
- Mas faleceu de quê, minha mãe? Perguntou minha irmã mais velha.
- De AIDS. Vejam só! Pior que eu sempre me preocupava com Verinha naquela época da TV. Ela era muito popular entre os rapazes da Associação.
- Nossa, que pena! Retrucamos quase que em coro ensaiado.
Algumas décadas depois, estávamos todos nós em família comemorando o aniversário de um figurão da nossa cidade, o nosso amigo querido, Sr. Leonard Grigorescus.
Ao chegarmos ao salão de festas, Leonard veio nos receber todo sorridente. Ao lado dele, estava sua assistente executiva. Uma senhora de meia idade muito bonita, cabelos lisos com luzes cor de mel e uma franjinha impecável.
- Verinha??? Perguntou minha irmã mais velha.
Logo Verinha e mamãe se reconheceram e deram um berro de alegria.
Houve abraços, muitos sorrisos e elogios.
Eu cutuquei minha irmã mais nova, que também se lembrava da morte triste de Verinha. “Mas ela não estava morta?” Cochichei.
Finalmente, quando Verinha veio abraçar meu irmão, a “ovelha” negra da família, ele soltou a boa da noite:
- Verinha, que emoção vê-la viva!
Verinha não entendeu nada.
- Há alguns anos, continuou a peste do meu irmão, mamãe havia lhe matado.
A gargalhada foi unânime, exceto a de Verinha coitada, que não entendeu nada.
- Mas então eu morri, foi? Perguntou Verinha toda curiosa e divertida. E eu morri de quê?
Então um silêncio pairou, as gargalhadas cessaram, eu e meus irmãos saímos de fininho, afinal, agora mamãe precisava se virar para criar outra estória para se safar das suas imaginações quase que lunáticas.
Que noite!
Hahaha
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Estarei compartilhando estórias assim no meu novo livro chamado:
"O divertido cotidiano vs. Murphy".
Aguardem!
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