Inconfidências Paulistanas
Era pra ser um segredo. Mas, dirigia meu carro perfurando a noite, e enquanto passava pela rua arborizada perto do parque do Ibirapuera, sem mais sem menos comecei a cantar alto “we´ll make great pets! We´ll make great pets!” tentando toscamente imitar o falsete de Perry Farrell, perdendo a voz inclusive, foi quando me cansei de cantar. Então, decidi começar a fazer afirmações positivas ao meu favor, a fim de serem carimbadas em meu subconsciente (leiam livros de autoajuda e aprenderão essas coisas!), frases que me elevavam à condição de um Príapo insaciável; em voz de tenor, repetia: “tenho uma ereção duradoura e prolongada, o sangue flui livremente nas veias saudáveis de meu pau!”. Uma outra vinheta toca alta na rádio Bandeirantes e canto frase por frase daquela marcante vinhetinha...quando me dou conta de que há mais alguém no carro, além de mim, no banco de trás!
Esqueci de contar que sou motorista de Uber. E de acordo com minha mente confusa, devido à falta de meus remédios coloridos, a minha última passageira noturna chamava-se, deixe-me ver...Samara! Samara, isso mesmo! entrou no carro e ficou bem quietinha e não respondia às minhas perguntas, então dirigi por São Paulo, a mercê do waze. Notando sua presença, tornei me mortalmente envergonhado, pedi desculpas à ela por esquecer que a conduzia em meu veículo, e era meu dever proporcionar conforto durante o trajeto, com meus gritos, afirmações e cantoria, deveria tê-la incomodado imensamente, só pude me desculpar, nunca tinha feito isso em minha vida!
Estranhei o seu silêncio, nada me respondeu, nem mesmo emitiu som de nenhuma espécie, duvidei até de que estivesse respirando! De repente, vejo seus bracinhos movendo-se em minha direção, como que para me sufocar!
Mas espera aí, essa é uma inconfidência fanfarrônica, não uma crônica de suspense. Então, Samara veio me cumprimentar com um abracinho carinhoso, por ter tido a sorte de presenciar uma cena perturbadora daquelas. No entanto, saibam que Samara era mais perturbadora do que a cena que presenciara. Era feia como os diabos? Sim. Era anã? Sim. Parecia a Moma japonesa? Sim.
A gente ficou amigo, tenho o uatisape dela que posso lhes fornecer à qualquer instante, também me recomendou que procurasse seu psiquiatra, o Dr. Miro. Falando nele, preciso ir imediatamente em seu consultório, ali na Alameda Santos, implorar que me prescreva doses mais potentes de meus remédios coloridos!