Inferno dentro de mim
Em casa, aprendia-se desde cedo, que era feio criança ser “pedinte”. Mais ainda, sequer era de bom tom aceitar qualquer coisa que fosse oferecida por alguém; e não era o caso de se tratar de estranhos, não! Mesmo diante de conhecidos (as), a regra era sempre recusar... educadamente, recusar.
“Não, obrigada”
É de pasmar. Eis que os anos passam e, depois de dobrar a curva da vida, como se não bastasse a infantilidade, tinha que ser insistente, idiota e feia!
A pedinte.
É outra pessoa dentro de uma pessoa. Nem que se diga pra ela: “Você não tem que pedir nada pra ninguém!”
Em vão.
Toda vez que isso acontece, a vergonha é personifica. Que enfadonho! Insistentemente pedindo algo que, acredita que deveria ter só porque acha que nasceu princesa ou, acha que foi compreendida... sem que precise mencionar, pedir, implorar, espernear, chorar por...
Mas que difícil aprender, hein! Ninguém é obrigado e, nem deve, fazer com que outra pessoa se sinta parte importante da sua vida... Quer dizer, até aprende, mas não sabe praticar, não sabe viver. Basta uma nuvenzinha mais escura passar pra que não se sinta única, especial e amada.
Tudo porque nuvens, cheiros e coincidências não existem! Isso mesmo.
É mais ou menos assim que se formata o inferno. Cheio de fantasmas que, por alguns anos até, tem-se a certeza de que existem, depois, passam a fazer parte da etapa da dúvida (coisas que a mente anda a criar), e pra terminar, voltar a acreditar neles.
O passado foi construído de tempos imensuravelmente prazerosos e agradabilíssimos, momentos de vinho, licor e aventura, felizes mesmo! Coexistiu com as muitas janelas, por onde os fantasmas entraram... a banhar a vida de tortura, agonia, insegurança, medo...
Matreira, a sensação de abandono surge e alcança as entranhas como quem encontra refúgio pra se amuar... Perversamente, conduz os pensamentos por caminhos de tortura, com enganos e zombarias.
Fantasmas... Melhor deixá-los debaixo do tapete.
Melhor também, é parar tudo, ciente de que não é preciso “fazer nada por merecer” porque na vida, quem tem que receber, recebe... e ponto. Amem! Junho/2019