A Rua Helianto
Em uma rua sem saída, com poucas casas, mas vários terrenos vazios, moravam 5 meninas. Naquela rua, a Rua Helianto, moravam também todos os tipos de pessoas: jovens que trabalhavam o dia todo e de noite estudavam, idosos aposentados que aproveitavam as horas livres, esposas e maridos que levantavam muito cedo para o trabalho e mães que acordavam os filhos para a hora da escola.
Era uma rua cheia de particularidades, crianças e famílias que não poderiam imaginar que sonhos, descobertas e medos moravam bem próximos uns dos outros. Para mim, a Rua Helianto representava meu endereço e a minha casinha azul de portão branco ficava lá sempre me esperando de braços abertos. Hoje, depois de não mais morar na rua, ela representa para mim somente boas lembranças. Recordações das primeiras amizades, das primeiras vezes que andei de bicicleta sem rodinha e das várias vezes que ralei meus joelhos e chorei amargurada pela perda de regalias, parentes ou oportunidades.
Essa rua embalou meu sono, sonhos e vontade de crescer depressa e ela me convidava sempre para viver ao máximo a minha infância. Naquela rua, na Rua Helianto, moraram amigos imaginários, existiram comércios, casas e escolas de mentirinha e até gincana já tinha acontecido lá. Cresci em uma rua sem saída, embalada por uma doce e alegre infância que hoje registram apenas saudade e a certeza de que fui muito feliz, de que aprendi a ser criança sujando os pés no asfalto.
E, relembrando hoje sobre a Rua Helianto, descubro que todos os outros têm alguma rua na memória onde cresceram e foram crianças felizes. Todos temos alguma rua, alguma cidade ou bairro que hoje é saudade da alma. Porque em cada rua crianças cresceram, aprenderam a brincar e descobrir o mundo infantil. Rua Helianto existe ainda hoje e vou quase sempre lá, mas por já não morar mais na casinha azul, só me resta lembrar com muita saudade de um tempo que foi muito bom e inesquecível. Porque na Rua Helianto eu guardei sonhos, conheci amigos e descobri aos poucos sobre a vida.