Três santos festeiros?

     1. Ôba! Ôba! Começou o mês de Antônio, Pedro e João, três santos festeiros. Festeiros? Eles são mesmo festeiros ou foram seus devotos que os fizeram ser?      Alegres, a ponto de patrocinarem o mês mais festivo, jucundo, prazeroso do ano.
     
2. Faço ligeiros comentários sobre o comportamento dos três, começando por Antônio de Pádua, o mais querido. Tenho vários livros sobre o santo casamenteiro. Em nenhum desses livros encontrei Frei Antônio (Fernando de Bulhões, seu nome no século), franciscano, homem de clausura, portanto, participando de "festas de arromba". 
     
3. Muito pelo contrário. Antônio, tanto como frade agostiniano como frade seráfico - é o que se sabe -, teve  vida recatada, quase que limitada à cozinha de seu convento, apesar de sua erudição. Vida conventual onde o silêncio, nos claustros e nas clausuras, se impõe; no seu tempo, com certeza, mais ainda.
     
4. Digo isso sem medo de errar. Parte de minha vida vivi nos seminários franciscanos, atento à rotina dos conventos. Estudei nos seminários seráficos achando que, de repente, vestiria, Ad Eternum, o hábito do Pobrezinho de Assis. Não deu. Fora, como muitos, chamado, mas, como muitos, não fora escolhido - Multi sunt vocati, pauci vero electi
     
5. Mas minha história é outra história e só a muito poucos pode interessar. Se duvidar, a ninguém, além desse pífio cronista. Mas sou feliz no meu anonimato. 
     
6. Voltando a Antônio de Pádua (13 de junho).      Sabe-se que seu entusiasmo só estravasava nos púlpitos das igrejas onde pregava. São célebres, eruditos e vibrantes os seus sermões.
     Combatia, com extrema precisão e violência, as heresias do seu tempo. Ganhou da Igreja o título de "Martelo dos hereges". São Francisco de Assis, seu pai espiritual, o chamava, reconhecendo seu imenso valor, de "meu bispo". 
     
7. Por conseguinte, Santo Antônio, a partir do que dizem seus biógrafos, nunca foi um frade festeiro.      Viveu o dia a dia do seu convento, como cozinheiro, conversando com o Menino Jesus, nas suas orações permanentes.  Santo Antônio, roga por nós!
     
8. São Pedro, o primeiro papa. Diz-se que ele era um camarada sisudo, iracundo, ranheta, ciumento e criador de caso. Arrancou a orelha de Malco, segundo João Evangelista, e negou, por três vezes, que conhecia Jesus de Nazaré, já a caminho do Gólgota. 
     
9. Ainda segundo os livros, Pedro não gostava de Maria Madalena. Tinha ciúmes dela porque o Mestre a prestigiava. Era respeitada como a "apóstola dos apóstolos".  Maria de Magdala teria dito que Pedro "tinha o pavio curto".
      Leiam, a respeito, "Madalena Sem Filtro - Memórias póstumas da apóstola de Jesus", excelente livro do jornalista Rodrigo Alvarez.  Como um senhor com esse perfil podia ser amante do forró?
     
10. E João Batista?  Até onde se sabe, o Precursor não era um homem dado a grandes festejos; que dirá a forrós. Era, sim, um homem recolhido ao silêncio dos desertos; comia gafanhotos e bebia mel de abelhas.
     Dedicava-se às suas pregações ("Eu sou a voz que clama no deserto"), anunciando e preparando a vinda do Senhor. E o fazia sem fanfarras e sem trombetas. Só no bico.
     
11. Teve um fim trágico. Todos conhecemos o episódio que culminou com sua decapitação, envolvendo, na trama macraba, um dos Herodes, Herodiades e sua filha Salomé. Tudo depois que ele denunciou o que não estava certo na Corte. 
     
12. Onde está, nas Escrituras, e até fora delas, um só momento que identifique o Batista como um participante ativo de uma roda de forró e defensor do foguetório que azucrina nossos ouvidos nas noite são-joaninas, hoje sem balões... Qui saudade deles!!!
     Contudo, em que pese a sisudez e o recato desses três santos, sou favorável a que as festas juninas prossigam com muita sanfona, muito forró, muito milho verde, fogueiras, foguetes e muito licor de jenipapo. Tô dentro.  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 01/06/2019
Reeditado em 12/06/2019
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