A MEMÓRIA É IMPLACÁVEL.

“Na minha vida há instantes e momentos de conhecimento interior, ou seja, luzes divinas pelas quais a alma recebe um ensinamento interior sobre coisas que nem leu em livros, nem foi instruída por qualquer pessoa. São momentos de conhecimento interior, que o próprio Deus concede à alma. São grandes mistérios” (Diário, 1102). Diário da Santa da Misericórdia, Irmã Faustina.

“Em Busca do tempo perdido” de Proust, ainda que folheados alheatoriamente, trará sobreexcelência de conceitos.O papel da memória é central no romance.

A razão pela qual algumas pessoas acham absolutamente difícil serem felizes é por estarem sempre a julgar o passado melhor do que foi, o presente pior do que é, e o futuro melhor do que será.

Proust se vale da técnica literária do “flashback”, e faz com que o narrador recue no tempo das suas memórias, em episódios desencadeados por recordações de cheiros, sons, paisagens ou mesmo sensações de tato.

E a memória é implacável para quem viveu agruras de uma vida de alma pequena. Se enfrentou o amor ao próximo, sufragando a ausência de liberdade de viver inserida em credos, submissa à pessoalidade das paixões por ideias religiosas sectárias, de seitas maquiavélicas, ou na desrazão do que chamam de política, será indelével no tempo pelo exemplo da retirada da dignidade da vontade, a supressão das liberdades de escolha. Ficará marcante na memória o que foi vivido.

Alguns que assim se portaram pagaram o preço, ficaram longe dos ensinamentos de Jesus de Nazaré que foi perseguido e morto, por elevar a vontade de seu Pai no ato de escolha da vontade livre. Assim, os que perseguiram a liberdade dos próximos, sequestrando vontades religiosas e políticas, foram perseguidos também. E sempre serão. É o norte da justiça transcendente.

As almas pequenas submetem-se à redução do “logos” acanhado pelo afastamento de ensinamentos do Grande Mestre. Ninguém tem o direito de acolher ou seguir o que retira as liberdades que nascem do direito natural de todos. Quem perseguiu ou persegue sofrerá, pois fizeram e fazem sofrer. O testemunho da memória é implacável, observem.

“Deus aproxima-se da alma duma maneira especial, conhecida apenas por Ele e pela alma. Ninguém percebe essa união misteriosa. Nessa união preside o amor e é só o amor que realiza tudo. Jesus se comunica com a alma de forma delicada e doce e, no Seu âmago, há a paz. Jesus lhe concede muitas graças, torna a alma capaz de participar dos Seus pensamentos eternos e, algumas vezes, desvenda à alma Seus divinos desígnios” (Diário, 622).

Todos que perseguiram ou perseguem os direitos de escolha não conhecerão essa paz. A paz de Jesus.

Falta amor, e quando falta amor a alma é pequena, falta tudo. Falta Deus.

O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração.

A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, após uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós; somos o passageiro exclusivo dessa viagem por vezes tornada em saga.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 01/06/2019
Reeditado em 01/06/2019
Código do texto: T6662218
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