Família é família
Em conversa com minha sobrinha mais velha, ela disse que uma das coisas que a deixa muito triste é que com a morte da minha mãe nossa família “original” acabou.
Fiquei refletindo sobre isso – será que família acaba?! Poderia fazer várias conjunções matemáticas, percorrer nossa árvore genealógica a partir dos meus pais, mas resolvi fazer o exercício com a minha família, considerando-a como “original”, esquecendo, momentaneamente de todos outros parentes.
Então, somos eu, meu marido e três filhos. Morrendo, eu, meu marido e os três filhos, acabou nossa família original visto que ainda não temos netos. Tá, mas agora temos as pessoas que entraram nas vidas de nossos filhos e que dizemos fazerem parte da nossa família (mas não da original). Morrendo nós todos, acabou mesmo, pois certamente os “agregados” seguirão suas vidas e passaremos a ser somente lembranças.
Outro exemplo bem presente é do meu irmão mais velho, Job, cuja família “original” era ele, sua esposa Ivone e a filha Luciana. Primeiro faleceu meu mano, depois a minha cunhada, resta minha sobrinha. Antes de falecer, minha cunhada vendeu a casa e presenciamos, literalmente, a derrubada do imóvel (doeu prá caramba) e dizíamos “acabou”, “acabou”. Mas restando minha sobrinha que, mesmo morando longe, sabemos que ela existe e ela sabe de nós. Além disso, nossa memória nos privilegia com as lembranças boas do meu mano e as não tão boas com a minha cunhada, mas como não somos perfeitos...
Acontece que minha sobrinha se referia a aproximação que nossa matriarca nos proporcionava. Juntar todo nosso povo ou quase todo nos aniversários da mãe era muito gostoso; também estávamos juntos (alguns mais efetivamente) nas adversidades relacionadas com a mãe. Sendo assim, não consigo fazer o exercício mental do “acabou” da nossa família e me vejo obrigada a percorrer a árvore genealógica mais remota que conheço, tanto da originalidade familiar do meu pai como da minha mãe. Daí precisaria de muitas páginas para relatar nossos envolvimentos familiares, já que, a partir dos meus pais, somamos (até agora), 56 pessoas e o povo não para de procriar, menos os meus tristes filhos (buaaa).
A conclusão que cheguei é de que a família morre com qum partir deste mundo. Por mais que queira e tente me afastar pelos mais variados motivos, não consigo. Meus elos são ancestrais, estão no sangue que corre nas minhas veias. Até posso ficar sem ver esse ou aquele por muito e muito tempo, mas quando bater o olhar ou somente o pensamento, que seja, o coração vai disparar e até me atrevo a assegurar que jamais conseguirei desejar o mal a qualquer um deles, pois os valores morais deixados por nossa família “original” não nos permite. Nossa escola sempre foi do bem!
Na despedida disse a minha sobrinha que a gente vai estar sempre junto e ela disse: ...”espero que não seja em caso de doença”. Seja o motivo que for, família é família e o trono do matriarcado vai sendo substituído pelas novas família “originais”, é a vida que segue e deixa sempre uma baita saudade!