Vovó Marilza e a Promessa Quebrada

Naquela tarde sonolenta de quarta feira de cinzas; vovó Marilza tentava, pela milionésima vez, acertar os pontos para terminar um sapatinho de crochê cor-de-rosa, que ela havia prometido à Laura, sua neta, quando ela ainda estava com sete meses de gravidez daquela que seria a sua primeira bisneta; a Larissa, que na próxima semana já vai comemorar o seu quinto 'mesversário'.

Ela fez essa promessa no dia em que a sua neta foi fazer a ultrassonografia para saber o sexo do bebê, e ela queria que o seu primeiro bisneto fosse uma menina.

Só que a visão da vovó Marilza já não há algum tempo não anda lá muito boa, como ela mesma costuma dizer, daí a grande dificuldade em pagar a promessa que fez. E foi então que, depois de muito pensar, ela chegou à conclusão de que seria muito mais fácil comprar o par de sapatinho de crochê do que fazer um. Mas pensando um pouquinho mais, ela chegou à conclusão de que assim ela não estaria agindo corretamente, porque a promessa feita foi de que ela é que deveria fazer o sapatinho.

Mas logo depois ela rebateu esse pensamento com uma pergunta a si mesma: "A quem eu fiz essa promessa?" E com um largo sorriso ela mesna respondeu: "A mim mesma, ora bolas!" E raciocinou; bem se eu prometi a mim mesma, eu mesma me desobrigo da promessa.

E imediatamente foi até a gavetinha da sua máquina de costura e, pegando a sua surrada bolsinha vermelha, encontrou lá uma nota de R$ 50,00 e pensou: "Isso deve dar, amanhã mesmo vou comprar o sapatinho da Laurinha".

E já na manhã do dia seguinte, lá estava ela toda alegre e fagueira caminhando pelo calçadão do bairro em busca da loja de artigos infantis. Mas eis que em meio àquela multidão, alguém lhe dá um forte esbarrão que quase que a derruba, o que só não aconteceu graças à solidariedade de uma jovem senhora que a abraçou forte naquele momento, evitando que ela fosse ao chão, atitude que ela agradeceu muito, repetindo várias vezes: "-Muito obrigado filhinha, vai com Deus". Aquela jovem senhora, com um sorriso desapareceu na multidão e a vovó seguiu o seu caminho.

Mas depois de ter chegado lá na loja de artigos infantis e ter escolhido um lindo par de sapatinhos cor-de-rosa, isso depois de ter pechinchado muito e conseguido um desconto de Cr$ 14,99, fazendo com que ficasse custando exatamente os Cr$ 50,00 que tinha levado, dirigiu-se ao caixa para fazer o pagamento, mas aí; cadê a sua bolsinha vermelha? Foi então que ela se lembrou do 'esbarrão' e da ajuda que teve daquela 'simpática' e jovem senhora...

Cheia de raiva diante da moça do caixa, que não estava entendendo nada, ela soltou um baita palavrão e ainda completou: "Vai com Deus, nada! Vai é com diabo que te carregue sua ..."

E antes de entrar em casa, ainda muito furiosa, ela foi desabafar com a sua vizinha; dona Mercedes que, depois de ter ouvido atentamente toda a sua história, com todos os seus detalhes, falou: "-Marilza, promessa é promessa e tem que ser cumprida, senão você pode sofrer as consequências. E o roubo dessa grana já é uma delas..." E completou: "-Isso pode ser só um aviso; se você não fizer o tal sapatinho da promessa, pode estar sujeita uma desgraça ainda maior..."

E a vovó Marilza correu para o seu quarto atrás da sua cestinha, onde estavam guardados o rolo de lã cor-de-rosa e a agulha de crochê...